Dia Internacional das Lesões da Coluna

Data Evento

5 de Setembro, 2024    
Todo o dia

Dia Internacional das Lesões da Coluna 

Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS 

A lesão da coluna vertebral refere-se à danificação da medula espinhal, mais frequentemente causada por traumatismos evitáveis como acidentes de viação e quedas. Contudo, embora menos frequentes, também podem ser devidas a doença degenerativas, vasculares, infeciosas, tóxicas e congénitas. 

Os sintomas e o impacto na funcionalidade dependem da zona da coluna vertebral afetada. A medula espinhal é um sistema de comunicação entre o sistema nervoso central e os órgãos periféricos. Então, facilmente se compreende que em caso de lesão se dá um corte de comunicação deixando de ser possível o sistema nervoso central enviar ordens para a periferia e de receber informação das zonas afetadas. A secção da medula espinhal, para além de levar à impossibilidade de mobilizar os membros afetados, interfere com o controlo das funções fisiológicas como a mobilidade do intestino e da bexiga e mesmo da atividade sexual.  

A lesão da coluna vertebral gera perda de autonomia pela impossibilidade de realizar as mais variadas atividades de vida diária, como lavar-se, vestir-se ou mesmo comer.  Este quadro assustador, que não se deseja a ninguém, deve-se mais frequentemente a acidentes que podem ser evitados respeitando as mais elementares regras: 1) usar cintos de segurança; 2) usar capacete nas deslocações de mota, bicicletas ou trotinetes; 3) respeitar os limites de velocidade; 4) não conduzir sob o efeito do álcool ou quaisquer outras substâncias (não esquecer os psicofármacos). 

Sublinho a importância do cumprimento das regras de trânsito. A este propósito, confesso que fico perplexo quando alguém, a propósito da colocação de radares de controlo de velocidade, diz que é “uma caça às multas”! Este é um argumento revelador de grande incapacidade cognitiva e insensibilidade social. A multa só vai para quem transgride. Quem transgride é que se entrega para ser multado colocando a sua vida em risco e, pior, a dos outros. Só a total insensibilidade social explica, mas não justifica, tão grande disparate.  

Muitas vezes as próprias noticias nos media desculpabilizam os infratores e culpabilizam os que nada contribuíram para o sinistro. Alguém vai a 200km por hora numa estrada de 90, mas a notícia é “ambulância demorou 20 minutos a chegar ao local da acidente”. Para acabar com o flagelo dos acidentes mortais e incapacitantes, que diariamente temos nas nossas estradas, é fundamental que não sejamos complacentes com os prevaricadores. Verdadeiros assassinos. Que cada um assuma as suas responsabilidades. Se queremos mudar o mundo comecemos por mudar o nosso.   

Isto não quer dizer que não seja fulcral investir e garantir cuidados de saúde de qualidade que permitam a mitigação dos efeitos das lesões medulares: a mortalidade nos países pobres é 4 vezes maior que nos países mais ricos, os adultos com lesões medulares tem taxas de desemprego superiores a 60%, as crianças tem significativos atrasos de desenvolvimento. Portanto, nas lesões medulares, como em quase todos os problemas de saúde, a pobreza é um fator de risco de mau prognóstico e, por sua vez, geradoras de mais pobreza.  

A recuperação e integração devem ser os principais objetivos nas pessoas com lesões medulares. Para o feito, exige-se grande investimento na medicina de recuperação e na promoção de autocuidados e, claro, não esquecer dos cuidadores. Neste processo procura-se manter o princípio: tudo o que a pessoa (com lesão medular) pode fazer não deve ser feito por outro. Procurar o máximo de autonomia é o desiderato máximo para estes pacientes.