Escola Paciente-Professor

COORDENAÇÃO
- Professora Doutora Cristina Vaz de Almeida
- Professora Doutora Célia Belim
- Professor Doutor Agostinho Leite de Almeida
- Dr.ª Maria Teresa Flor de Lima
MISSÃO
A Escola Paciente professor visa repensar a educação na perspetiva da literacia em saúde, da saúde e do social numa vertente mais integrada e interdisciplinar, onde a voz do paciente reforça as competências dos indivíduos no âmbito da saúde, da doença e dos caminhos para uma maior qualidade de vida.
O que é o “Paciente Professor”?
Inspirado pelo modelo de Montreal, este conceito reconhece os pacientes como membros ativos da equipa de cuidados, valorizando o seu conhecimento vivido e as competências adquiridas ao longo da sua jornada com a doença. A literatura científica destaca que este conhecimento pode ir desde o testemunho pessoal até à co-construção de saberes, contribuindo para o desenvolvimento de empatia, competências técnicas e relacionais, e uma abordagem centrada no projeto de vida do paciente.
O Paciente como Professor
O Paciente- Professor é um programa associado à Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde que integra abordagens humanísticas e centradas no paciente como elemento-chave do processo de saúde e de doença.
Os Pacientes- Professores são pessoas altamente qualificadas nas áreas da doença que representam e contribuem para esclarecer, apoiar o conhecimento, desenvolver estratégias, seja junto de outros pacientes, seja através de intervenções junto de estudantes, de profissionais, de organizações, que permitem aos destinatários melhorar o seu nível de literacia em saúde sobre a Jornada do paciente, os seus desafios, e valores, pondo ao serviço de outros as competências que adquiriram ao longo da sua jornada para que se alcancem melhores níveis de compreensão e ação sobre a doença, qualidade de vida e soluções.
OBJETIVOS
Pretende-se criar, implementar e divulgar fortes testemunhos da “voz dos pacientes”, como exemplos vivos para a melhor e mais robusta compreensão sobre a doença crónica e promover uma aprendizagem interdisciplinar.
Entre os vários objetivos destacam-se os seguintes:
- Desenvolver literacia da prevenção das doenças;
- Melhorar as competências, a motivação e a confiança de outros pacientes na gestão dos sintomas;
- Desenvolver estilos de vida saudáveis na situação de doença;
- Melhorar a comunicação com profissionais de saúde, do social e educação;
- Desenvolver competências de comunicação nos estudantes de saúde, do social e educação;
- Promover utilização de recursos de saúde de forma mais eficiente eficaz, através da voz dos Pacientes;
- Fomentar a educação entre pares;
- Desenvolver atividades e intervenções dinâmicas, para além dos métodos expositivos;
- Promover o desenvolvimento de competências através de instrumentos úteis para melhorar a qualidade de vida numa perspetiva biopsicossocial;
- Capacitar e empoderar todos os que participam nas sessões dos P-P;
- Promover de forma estruturante as competências relacionadas com a empatia, a assertividade, a clareza e a positividade.
Benefícios para as Organizações (hospitais, serviços de saúde, instituições de ensino, ONG, etc.)
| Nº | Benefício | Explicação / observações |
| 1 | Melhoria da qualidade e segurança da prestação de cuidados | Organizações que incorporam modelos de literacia em saúde e envolvimento ativo dos pacientes reduzem erros de comunicação, melhoram a adesão terapêutica e promovem melhores outcomes. Por exemplo, o modelo das “10 Atributos de Organizações com literacia em saúde “literadas”” realça este aspeto. |
| 2 | Redução de custos e optimização de recursos | Quando os pacientes compreendem melhor, fazem escolhas mais adequadas, utilizam menos desnecessariamente serviços, ou evitam complicações. A literacia em saúde bem promovida tem evidência de associação com menor internamento, melhor gestão de doenças crónicas. |
| 3 | Reforço da comunicação entre profissionais, pacientes e outras partes-interessadas | A introdução de “paciente-professor” potencia a voz do doente, promovendo um canal direto de feedback entre utentes, organizações e profissionais, melhorando a relação clínica, educativa e institucional. |
| 4 | Desenvolvimento de cultura organizacional centrada no paciente e na literacia | A organização passa a ver o paciente como parceiro ativo, incorpora a literacia em saúde nas suas operações, no planeamento e avaliação. Este alinhamento torna-se uma vantagem estratégica, reforçando missão/valor institucional. https://nam.edu/perspectives/ten-attributes-of-health-literate-health-care-organizations |
| 5 | Fortalecimento da interdisciplinaridade e redes colaborativas | A Escola Paciente-Professor promove a integração entre setores (saúde + social + educação) e as organizações ganham novas ligações, possibilidade de colaborações inovadoras, redes de partilha do saber vivido e técnico. |
| 6 | Melhoria da literacia organizacional dos profissionais | Os profissionais ganham sensibilidade e competências ao interagir com pacientes-professores, o que implica menos mal-entendidos, melhor adequação de comunicação, mais eficácia nos processos educativos e de cuidado. |
| 7 | Diferenciação e reputação institucional | Organizações que adotam iniciativas inovadoras de literacia em saúde e envolvimento ativo de pacientes destacam-se, reforçando a sua imagem como líderes em cuidado centrado no utente, educação e qualidade de vida. |
| 8 | Potencial para melhor avaliação, monitorização e investigação | A participação de pacientes-professores oferece dados qualitativos e quantitativos sobre a jornada do paciente, possibilitando estudos internos, melhoria contínua, benchmarking e publicação científica. |
| 9 | Promoção de práticas sustentáveis de literacia em saúde | A organização ganha modelos replicáveis e sustentáveis de literacia em saúde (capacitados pelos pacientes-professores) que podem perdurar no tempo, integrando-se no planeamento estratégico. |
| 10 | Contribuição para equidade em saúde e redução de disparidades | Uma organização que escuta a voz do paciente, reconhece diferentes níveis de literacia em saúde, e adapta-se, pode diminuir barreiras para populações vulneráveis. NAM+1 |
Fontes: https://nam.edu/perspectives/integrating-health-literacy-with-health-care-performance-measurement
https://nam.edu/perspectives/ten-attributes-of-health-literate-health-care-organizations
Benefícios para a Sociedade / Comunidade de Pacientes
| Nº | Benefício | Explicação / observações |
| 1 | Empoderamento dos pacientes e das comunidades | O facto de pacientes se tornarem “professores” transforma-os em agentes ativos, o que fortalece a cidadania em saúde, a literacia em saúde e a co-gestão da saúde, tal como a missão da SPLS. |
| 2 | Melhor compreensão da doença, prevenção e hábitos de vida | A voz dos pacientes-professores permite partilhar saberes vividos, aumentar a consciência pública e a adoção de estilos de vida saudáveis, mesmo em contextos de doença. |
| 3 | Aumento da qualidade de vida e da experiência do utente | A sociedade beneficia de cuidados mais centrados, humanos, com comunicação mais clara e planos de vida adaptados à pessoa, o que potencia melhores resultados e vivências mais dignas. |
| 4 | Melhoria do envolvimento socio-educativo e interdisciplinar | A integração entre saúde, educação e área social cria comunidades mais informadas, com redes de apoio, literacia entre pares e aprendizagem mútua. |
| 5 | Redução de estigma e aumento da inclusão dos pacientes | Pacientes que partilham a sua jornada como professores ajudam a humanizar a doença, quebrar tabus, reforçar que “ter doença” não é sinónimo de passividade, e promovem a inclusão social. |
| 6 | Promoção da participação democrática e voz dos utentes | A sociedade ganha porque os utentes deixam de ser apenas recipientes de cuidados e passam a contribuir ativamente, assumindo papel de co-criadores. |
| 7 | Melhoria da eficiência do sistema de saúde para a sociedade | Quando os utentes estão mais literatos em saúde, quando o sistema comunica melhor, há menos desperdício, maior adesão a cuidados de prevenção, o que beneficia no global a sociedade (economicamente e em termos de saúde pública). |
| 8 | Incentivo à investigação e inovação participativa | A voz dos pacientes-professores abre caminho a investigação com “lived-experience”, com metodologias participativas, que podem gerar inovação em literacia, políticas de saúde e serviços. |
Benefícios para o Paciente-Professor
| Nº | Benefício em português | Explicação / observações |
| 1 | Valorização da experiência pessoal e sentido de utilidade | Ser “paciente-professor” reconhece oficialmente as competências adquiridas ao longo da jornada, reforçando autoestima, identidade e propósito. |
| 2 | Aprendizagem e desenvolvimento de novas competências | O paciente-professor desenvolve competências de comunicação, educação, facilitação, empatia e literacia em saúde, que podem ser transferidas para outras áreas da sua vida. |
| 3 | Empoderamento e voz ativa | Isto confere ao paciente-professor um papel ativo, não passivo, no sistema de saúde, o que pode melhorar o seu bem-estar psicológico e a sua participação nos processos de cuidado. |
| 4 | Reconhecimento institucional e profissionalização | Pode vir a existir reconhecimento formal do papel, oportunidades de voluntariado ou até remuneração simbólica, conferindo dignidade e visibilidade ao papel. |
| 5 | Rede de suporte e sentido de comunidade | O paciente-professor conecta-se com outros pacientes, profissionais e organizações, criando redes de suporte mútuo, troca de saberes e sentido de pertença. |
| 6 | Contribuição para melhoria coletiva | Saber que a sua história ajuda outros e melhora sistemas de saúde e literacia em saúde dá significado e pode gerar impacto social e pessoal. |
Benefícios para Estudantes
| Nº | Benefício | Explicação (em Português) |
| 1 | Compreensão mais profunda da doença e sensibilidade às perspetivas e experiências dos pacientes | Ao escutarem diretamente as vivências dos pacientes-professores, os estudantes têm acesso ao conhecimento experiencial sobre a jornada da doença, compreendem os desafios diários, obstáculos ao tratamento e impacto emocional, desenvolvendo assim maior empatia e reconhecimento do papel ativo dos pacientes na gestão da sua saúde. |
| 2 | Benefícios pessoais e sociais: ampliação de visão e consciência sobre os contextos de saúde, social e comunitário | A interação com pacientes-professores expande a perceção dos estudantes sobre realidades diversas, promovendo respeito pela diversidade, competências de cidadania em saúde e compreensão do impacto social das doenças em vários contextos. |
| 3 | Desenvolvimento de competências críticas e criativas para compreender a jornada do paciente e os seus efeitos na qualidade de vida | A análise das narrativas e experiências partilhadas pelos pacientes-professores estimula o pensamento crítico, a criatividade na resolução de problemas e a capacidade de identificar necessidades e soluções que valorizem a qualidade de vida de indivíduos, famílias e comunidades. |
| 4 | Aquisição de uma abordagem mais humanística sobre a saúde, o mundo e a participação da pessoa com doença | O contacto com pessoas que lidam com doença reforça uma visão holística do cuidado, centrada na dignidade e valores do ser humano, promovendo a humanização das práticas e uma relação profissional-utente mais ética, empática e colaborativa. |
Este conjunto de benefícios alinha-se fortemente com a missão da Escola Paciente-professor. Ao incorporar pacientes-professores, está a criar exatamente esse espaço onde o saber vivido converge com o saber técnico e educativo, promovendo literacia em saúde, empoderamento, comunicação eficaz e qualidade de vida. Além disso, os benefícios para organizações e sociedade mostram que o impacto vai além do indivíduo — é sistémico, institucional e social, o que fortalece a sustentabilidade e a escala da iniciativa.
METODOLOGIA
A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) disponibiliza um grupo de Pacientes-Professores (P-P), certificados para participar em vários eventos, intervenções e atividades relacionadas com a doença;
Tipo de sessões
- As sessões podem ser presenciais ou em suporte digital (de forma síncrona ou assíncrona), não excedendo duas horas por cada sessão;
- Pode haver sessões individuais do P-P ou sessões com co-coordenação do P-P por um profissional;
- Cada módulo formativo deve ter, no mínimo, três sessões e deve obedecer a um processo prévio de inscrição, com eventual pagamento mínimo a ser analisado e obedecendo às taxas normais para este tipo de sessão educativa;
Pacientes- Professores
- Alexandre Guedes da Silva — SPEM
- Cláudia Fraga — MOG
- Filipe Paixão — Patient advocate
- Maria Teresa Flor de Lima
- Mariana Coutinho — Patient advocate
- Paulo Gonçalves — Raras
- Tâmara Milagre — EVITA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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