Dia Mundial da Segurança do Doente
Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS
A 25 de maio de 2019, a 72ª Assembleia Mundial da Saúde aprovou a resolução WHA 72.6 referente à “ação global sobre a segurança do doente“.
Nesta resolução declarava-se o dia 17 de setembro para ser dedicado à prioridade global de garantir a prestação de cuidados de saúde em segurança. Neste dia, apela-se à solidariedade de todos os países e instituições internacionais, além de reunir pacientes, familiares, profissionais de saúde e políticos para assumirem o compromisso de garantir a segurança dos doentes.
Entende-se por segurança do doente o conjunto de atividades que procuram reduzir os riscos, os erros e os danos possíveis de ocorrerem durante a prestação de cuidados de saúde, sendo uma das mais importantes dimensões da qualidade em saúde.
Calcula-se que, anualmente, se observem cerca de 134 milhões de eventos adversos nos cuidados de saúde hospitalares dos quais 2,6 milhões são fatais. O risco da utilização dos cuidados de saúde parece negligenciado: a probabilidade de morrer por acidente médico é de 1 para 300, enquanto para o acidente de viação é de 1 em 3 milhões, contudo, o risco percecionado de morte por acidente de aviação é muito maior que o risco de morte por uso dos serviços médicos.
Nos países ricos, 1 em cada 10 pacientes sofre os efeitos de um evento adverso ao receber cuidados hospitalares dos quais 50% poderiam ter sido evitados.
Nos países da OCDE, cerca de 14% das despesas hospitalares são para os eventos adversos. Nos cuidados primários, 4 em cada 10 pacientes sofrem os malefícios dos cuidados sendo que cerca de 80% eram evitáveis. Os erros com maiores consequências são no diagnóstico, prescrição e uso de fármacos.
A morte por eventos adversos está entre as 10 principais causas de incapacidade e de morte. O investimento na redução de eventos adversos gera poupança significativa de recursos e, por exemplo, o envolvimento dos pacientes podem reduzir a carga de danos cerca de 15%.
A segurança dos pacientes só é possível com o envolvimento de todos os doentes, familiares, profissionais, políticos e instituições. Sem querer, imputar responsabilidades aos pacientes pelos eventos adversos, sublinho a importância do seu envolvimento ativo para garantir a segurança dos serviços de saúde. O lema do ano passado chamava precisamente a atenção para a necessidade de envolver os pacientes: “Envolver os pacientes para segurança do paciente” (Engaging patients for patient safety) associado ao slogan “Elevar as vozes dos pacientes” (Elevate the voice of patients). Assim, espera-se dos utilizadores dos serviços de saúde que:
- Notifiquem qualquer erro ou quase erro que testemunhem. Esta notificação não procura penalizar, mas identificar fontes de erro para serem corrigidas. Errar é humano, não aprender e corrigir o erro é desumano.
- Não tomem decisões sem se sentirem perfeitamente informados e esclarecidos.
- Na dúvida, questionem.
- Informem os profissionais de todas as condições que possam interferir nos diagnósticos e tratamentos.
Por outro lado, é fundamental que os profissionais e unidades de saúde vejam nas reclamações de saúde dos pacientes uma oportunidade de melhoria e crescimento e nunca uma ameaça. Não matem o mensageiro! Para além disso devem procurar incessantemente melhorar todos os procedimentos e nunca dispensar os processos de rigor, nem facilitar ultrapassando procedimentos de controlo de qualidade. As unidades de saúde devem implementar culturas de qualidade que devem incluir a Literacia Organizacional de Saúde fornecendo informação adaptada ao doente e verificando o seu entendimento.
O lema deste ano para o Dia Mundial da Segurança do Doente é: “Melhorando o diagnóstico para a segurança do doente” (Improving the diagnosis for patient safety) associado ao slogan “Faça certo, torne-o seguro” (Get it right, make it safe!). Com este lema e slogan procura-se salientar a importância de fazer certo, o certo, no momento certo para chegar a diagnóstico, preciso e atempado, e obter os melhores resultados em saúde. A segurança dos doentes é a prioridade de qualquer profissional de saúde e, por sua vez, as unidades de saúde devem colocar no centro da sua atividade os pacientes que devem ser ouvidos em todos os processos de melhoria da qualidade dos serviços.
Por Susana Ramos, sócia da SPLS