Manual de Literacia em Saúde é "obra impar" para o Secretário Regional da Saúde da Madeira

Data Evento

20 de Junho, 2023    
14:30 - 19:30

No dia 20 de junho 2023, no Auditório da Reitoria da Universidade da Madeira, decorreu o lançamento do “Manual de Literacia em Saúde”.

Entre os ilustres convidados (consulte o programa completo aqui) esteve presente o Senhor Secretário Regional da Saúde da Madeira, Doutor Pedro Ramos, que, no seu discurso, se referiu ao Manual de Literacia em Saúde como uma “obra impar”. Leia o discurso na íntegra aqui:

 

“Muito boa tarde a todos

É com muito prazer que estou aqui no lançamento deste livro “Manual de Literacia em saúdePrincípios e Praticas”, das prof. Cristina Vaz de almeida e prof. Isabel Fragoeiro, a quem agradeço o convite para a sua apresentação e espero estar ao nível dos autores, bem como da prof. Maria João Barreira, também ela colega nesta apresentação.

Não sendo propriamente um homem de letras, sou inteiramente homem de ciências, de laboratórios, de intervenções.

Mas sou essencialmente um homem de desafios e este não podia recusar — pelas pessoas envolvidas, por um lado, pela minha amizade por elas, mas fundamentalmente pelo tema do livro, importante para a nossa sociedade, para os nossos cidadãos, para o nosso sistema de saúde, para a segurança e qualidade desse mesmo sistema, para a responsabilidade na nossa saúde e na saúde dos outros.

 

O cidadão é e deve ser sempre pós pandemia um dos principais responsáveis pela saúde, pela nossa saúde publica.

Pelos indicadores de saúde, através da sua participação, do seu comportamento, das suas atitudes, do seu pensamento e esta só pode ser feita na totalidade se estiver devidamente informado.

Cidadão informado é cidadão tranquilo.

 

A literacia em saúde é da responsabilidade de todos:

Dos decisores que devem criar as condições adequadas para a sua prossecução;

Dos prestadores que devem informar e conhecer todo o funcionamento das instituições, do sistema;

Dos utilizadores que devem utilizar melhor o sistema;

Só o podem utilizar se devidamente informados.

 

E hoje só e ignorante quem quer, a ignorância resulta da falta de conhecimento e este da falta de informação ao acesso de todos.

A literacia em saúde é importante para todos nós, para estruturar melhor o nosso pensamento, para comunicar melhor, para adotarmos outros comportamentos, para tomar as melhores decisões, e na saúde para reduzir tambem os custos do sistema.

Considerando literacia em saúde “a capacidade que os indivíduos têm de obter, processar e compreender informação básica de saúde, assim como os serviços de que necessitam para tomar decisões de saúde apropriadas” (nielsen-bohlman et al., 2004), devo dizer:

Gostei muito de ler o vosso livro, e vou aproveitar para apresentar da forma que achei ser melhor para todos, sem me alongar muito.

Estruturando o pensamento e reforçando com excertos e passagens do livro, num tema muito envolvente, pertinente e atual para os sistemas de saúde, que se querem cada vez mais eficazes, eficientes, produtivos, promotores e protetores, preventivos, preditivos e se possível cada vez mais personalizados.

 

A medicina do futuro, digital, tende a ser mais segura-para isso tem de assentar numa literacia forte, robustecida, de fácil acesso, mas para todos, e, portanto, equitativa-nivelada por igual.

O direito a saúde e bem-estar – um dos 20 direitos do pilar social europeu e para ser cumprido, mas não esqueçamos da informação que tem de ser fornecida, e de fácil acesso.

 

Cristina Vaz de almeida e Isabel Fragoeiro com este livro transportam-nos para um universo diferente, um ambiente diferente — caracterizado por um aumento de responsabilidade, mas também de autonomia de decisão facilitado pela importância do acesso a informação e, portanto, mais seguro e confortável para todos.

Vejamos o que aconteceu com a pandemia, onde a pouca informação condicionou de forma importante as decisões iniciais e as recomendações para o controlo do covid 19.

E por isso dissemos que após a pandemia tudo será diferente.  E tem de ser diferente, porque passamos por uma provação importante, com morbilidade e mortalidade elevadas, com necessidade de reorganização social e sanitária, com aprendizagem de novas metodologias sociais e comunitárias, com vista a nossa proteção e com o recurso a uma nova ferramenta — a telesaúde e a digitalização com extraordinário impacto na saúde e na comunicação rápida e fácil, e ainda a rapidez com que temos de estruturar o nosso pensamento e gerir com celeridade a aquisição de conhecimentos para melhor decidir.

Este livro começa com uma excelente mensagem para todos nós: Tem de ser um catalisador para uma sociedade mais saudável, mais responsável.

E depois as suas 4 reflexões levam nos para um patamar diferente da importância da literacia nas suas varias vertentes da saúde

 

Reflexão 1 – health literacy in the sweet spot of professional development

Kristine sørensen

According to global business ecosystems 2030 report1 – “health” is expected to be the Fastest-growing life-area in the world between now and 2030. The investment in health is becoming a demand on two frontiers. First, health is considered an asset in which we can invest to keep ourselves healthy and out of risks. Second, if we are getting ill, there is a raising demand for support with regards to health and social care. Nevertheless, most health systems around the world face short-comings and new ways of thinking are needed to stay on top of the game.

Health literacy can be the gamechanger we are looking for!

Health literacy entails the knowledge, motivation, and competencies to access, understand,

Appraise, and apply information in everyday life regarding healthcare, disease prevention and

Health promotion to form judgement and make decisions to maintain and improve quality of life during the life course.

 

Reflexão 2 – literacia em saúde

Adalberto Campos Fernandes

 A literacia em saúde é a resposta adequada para a capacitação individual e coletiva no processamento e compreensão dos múltiplos fatores envolventes da saúde, cuja realização permitirá a tomada de melhores decisões e a formulação de escolhas mais adequadas.

 

Reflexão 3 – literacia em saúde: da conceptualização à ação

Graça Freitas e Miguel Telo de Arriaga

Conceção embrionária de que o profissional de saúde intervém em mais do que a doença, Transmitindo ensinamentos que promovam o bem-estar, despertou o conceito de saúde Cmo mais do que a ausência de doença, mas algo passível de construir, assente em cuidados e orientações profissionais.

Trabalhar a saúde superou, assim, a mera aplicação de um conjunto de práticas institucionalizadas, de um grupo profissional específico, perante uma determinada patologia, com a manipulação de um conjunto de instrumentos técnicos e científicos para produzir uma ação transformadora sob determinados objetos (o corpo, o meio físico), passando a abraçar determinantes abrangentes, inter e pluridisciplinares, crentes que o exercício de um papel de tutoria – promotor da divulgação de informação clara, acessível e adequada à compreensão –, garantiria ganhos na evicção de doença e uma vivência mais salutar. 

É hoje inequívoco que um dos fatores críticos para a sustentabilidade do serviço nacional de saúde (SNS) e dos sistemas de saúde será a inclusão e o investimento em programas e planos de promoção da literacia em saúde.

 

Reflexão 4 – literacia em saúde e integração de cuidados

Luís Campos                                      

Comecemos por um exemplo concreto: um utente do serviço nacional de saúde (SNS) de Mafra que vai a um dos três centros de saúde que existem na vila. Se estiver inscrito na

Unidade de saúde familiar (usf), tem acesso mais fácil ao seu médico de família do que se estiver inscrito em alguma das duas unidades de cuidados de saúde personalizados (ucsp) existentes em mafra. Se o doente precisar de análises, existem postos de colheita em mafra, mas se necessitar de um raio-x simples tem de ir a Torres Vedras, onde também Tem acesso a alguns exames de cardiologia e a consultas de ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, urologia ou pediatria. Se necessitar de consulta de gastroenterologia, neurologia, gastroenterologia, endocrinologia ou ginecologia tem de se deslocar a lisboa, ao centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN). Se precisar de consulta de oftalmologia, é geralmente referenciado para o instituto gama pinto e, se for de reumatologia, para o Instituto Português de Reumatologia, ambos também em lisboa. Algumas destas consultas têm atrasos de mais de seis meses. Entretanto os médicos de família não têm acesso aos exames, nem aos registos das consultas da maior parte dos locais para onde referenciam os doentes.                    

Temos de mudar.

E a mudança é mais hospital nas comunidades nos CS tal como fazemos na Madeira e, ainda ,a tal integração de comunicaçao entre profissionais.  Em todas estas reflexões salientam os autores a importancia da literacia em saude — da sua importancia na saúde mental, na digitalização, no ciclo de vida dos cidadãos, na co-responsabilidade das instituições, exemplo a articulação com as autarquias e no seu contributo para criarmos cidades cada vez mais saudaveis, seguras, sustentaveis mas acima de tudo devido a informação — responsáveis.

Nesta integração de cuidados salienta-se a importância dos CSP e da nova articulaçao com os ch e com a nova responsabilidade de medico-enf-farmaceutico-dentista de familia ou outras especialidades. Os doentes vulneraveis não podem ser tratados nas urgências  — tem de haver uma nova planificação. E uma nova articulação e a literacia ajudara os mais vulneraveis trazendo-lhes mais capacitaçao e responsabilidade na sua saúde.

Mas neste manual, como diz Francisco George no seu brilhante prefácio, o melhor adjectivo que podemos usar —  é o de ter oportunidade — de nos trazer uma oportunidade com uma utilidade indiscutivel para todos os grupos profissionais da saúde-

E cito:

O manual ora publicado tem oportunidade evidente. É uma obra de qualidade ímpar, com

Utilidade indiscutível para médicos, enfermeiros, psicólogos, sociólogos, além de outros especialistas

 

Os novos desafios da saúde — demográficos, alterações climáticas do impacto do digital na saúde, dos antimicrobianos, da robotização são desafios para os quais a literacia tera um factor determinante para continuar a haver ganhos em saúde.

 

Para alem de oportunidade, consigo encontrar na minha leitura outro adjectivo — o da riqueza de contributos.

E cito:

Este livro destina-se a todos os cidadãos. Compõem-no um conjunto de capítulos integradores de saberes diversos, aprofundados por entendidos na matéria, com formações profissionais e científicas diferenciadas, que se complementam, enriquecendo os diferentes ângulos e as dimensões através dos quais se pode abordar a literacia em saúde. Faculta aos cidadãos o acesso a conhecimentos atuais, baseados em evidências científicas, que os tornem conhecedores e críticos da matéria, e que, sobretudo, contribuam para que compreendamos o que pode entender-se por literacia em saúde e as mais-valias advindas de investimento efetivo na mesma.

Acrescem aos capítulos reflexões personalizadas de diferentes individualidades que têm assumido responsabilidades e funções primordiais ao nível do país, bem como ao nível internacional, n nomeadamente ligadas à saúde dos portugueses e à literacia em saúde no âmbito Europeu e da organização mundial de saúde.

 

Estamos quase a fazer 50 anos de literacia em saúde desde que Simonds, em 1974, introduziu este conceito que desde então tem se desenvolvido.

E cito:

Sendo a literacia em saúde um constructo dinâmico, desde o seu nascimento, em 1974, tem vindo a registar uma dimensão crescente e potenciadora da transformação de indivíduos, Grupos, organizações, comunidade e sociedades, face à sua abrangência e versatilidade. Indo “beber” a vários campos, a literacia em saúde toca os domínios da educação, da promoção da saúde, do marketing social, da comunicação em saúde, da persuasão ética, da gestão de conflitos, das organizações literadas, da saúde individual, coletiva e pública, assim como aplicável na intervenção comunitária, avaliando e integrando os determinantes sociais da saúde, entre outros vastos campos que conduzem a melhores resultados em saúde

É Simonds (1974) quem marca a cunhagem do conceito de literacia em saúde, unindo a palavra “literacia” à da “saúde” para se referir à necessidade de educação para a saúde em contexto escolar, caracterizando-a como um contributo para uma política social para a Saúde.

 

Simonds (1974) elenca os quatro pontos determinantes para a época, mas que atualmente podem ser reconhecidos também como fundamentais:

a existência de seguro nacional de saúde para todos, para garantir os cuidados de Saúde de que as pessoas necessitam;

os hospitais devem servir de centros de coordenação dos cuidados de saúde totais, com papel importante na promoção da saúde e manutenção da saúde, incluindo a prestação de educação sanitária a todos os que utilizam o hospital ou se encontram na sua área geográfica;

devem ser estabelecidas normas mínimas para a “literacia em saúde” e para todos os níveis de grau escolar (até ao 12.º ano), sendo que as áreas geográficas abaixo deste padrão devem ser ajudadas para desenvolver programas com professores qualificados para ensinar educação em saúde;

a comunicação de massa (media) deve assumir a responsabilidade de reforçar continuamente as boas-práticas de saúde e criar cidadãos de saúde através dos seus esforços de programação, sugerindo a atribuição de uma parte do tempo de serviço público à educação em saúde.

 

 De forma previdente, Simonds revela nesta reflexão de 1974 que devem ser feitos esforços para combater a desinformação, sugerindo que se disponibilize “tempo igual para os grupos responsáveis contrariarem informações enganosas sobre a saúde” (simonds, 1974, p. 9). E sabemos que a desinformaçao pode afetar e induzir em erro e enganar a popualação levando a comportamentos desadequados e alarmes inúteis que podem precipitar juizos irrefletidos conducentes a decisões erradas. Já na altura simmonds referia se a esta situação.

A OMG (Organização Mundial da Saúde) desenvolveu o conceito em 1998, considerando a “saúde” como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.  A partir daí o conceito reforçou-se, tendo inclusivamente um grupo de especialistas da OMG integrado a noção de espiritualidade, como uma quarta dimensão da perspetiva de saúde pública (dhar, chaturvedi & nandan, 2013).

Como veem já há muitos anos que o conceito de saúde se preparava para esta dimensao global —“one health” — da saúde global.

 

Não e fácil lidar com a literacia e esta não se aprende rapidamente – ex:

 

No histórico encontro em Charlottesville, Virginia, em 1990, os governadores, incluindo Clinton e, na altura, o presidente Bush, estabeleceram um conjunto de objetivos nacionais para a educação nos EUA  para o século XXI, enunciando esta ideia que, sabemos, foi difícil de se concretizar, e mesmo hoje os EUA lidam com graves lacunas relativamente ao nível de literacia da sua população. Diziam estes dirigentes na altura:

“By the year 2000, every adult American will be literate and will possess the knowledge and skills necessary to compete in a global economy and exercise the rights and responsibilities of citizenship.”

Se houvesse dúvidas a OCDE retira quaisquer incertezas: embora não se fale em literacia em saúde e apenas em literacia, também se faz a ponte com a saúde quando se explica que “a elevada literacia está também associada a melhores resultados de saúde, por exemplo, aumento da longevidade e hábitos e estilos de vida mais «saudáveis»” (ocde, 2000, p. Xv), como evidencia “eventuais externalidades positivas da Literacia, como os resultados da saúde e a participação política” (p. 77). A literacia também é vista com “retornos diretos e indiretos para as sociedades, havendo relações entre a elevada literacia, uma maior coesão social e uma melhor saúde” (OCDE, 2000, p.79).

  

Segundo as autoras:

Podemos determinar assim que o ano de 2002 foi o momento em que a Europa fez uma “ponte” de ligação entre a baixa literacia, o desemprego e a pobreza. Já Simonds o tinha feito

Nos EUA, no reconhecido discurso em que menciona pela primeira vez o termo “literacia Em saúde” (1974). E os beneficios são demasiado evidentes como dizem as nossas autoras.

 

Quadro 1.1 – Benefícios do desenvolvimento da literacia em saúde

■ Adaptação aos vários públicos e contextos.

■ Aumento do status em saúde.

■ Desenvolvimento da comunicação.

■ Determinante, mediador e moderador da saúde.

■ Entendimento da perspetiva positiva e construtiva da mudança de comportamentos.

■ Maior adesão ao tratamento.

■ Maior autocuidado.

■ Maior capacidade de reflexão sobre políticas públicas.

■ Maior capacidade do compromisso com o autocuidado.

■ Maior eficiência de poupança de custos no sistema de saúde.

■ Maior segurança do doente e dos profissionais.

■ Mais decisões acertadas em saúde.

■ Melhor gestão de custos e investimentos em saúde.

■ Melhor intervenção junto do indivíduo, nos grupos e comunidades.

■ Menos mortes prematuras.

■ Uma das portas de entrada da população no acesso à melhoria da saúde.

Fonte: elaboração própria baseada em almeida et al., 2019; makoul, 2001; who, 1998.

 

Os planos de saude actuais não fogem a esta responsabilidade — o PRS e o PDES da RAM 2019  tinham e tem já em conta a necessidade da participação do cidadao — ou seja aquele que com mais literacia pode contribuir para uma melhor saude, para uma melhor inclusao social — para um melhor desempenho societal.

O nosso está de acordo-20-30-com eixos e objectivos fundamentais para melhorarmos os indicadores da saude na RAM.

Mesmo assim a literacia tem de ser encarada não como uma perspectiva individual mas sistemica tal como diz (pedro, amaral & escoval, 2016), que integra diferentes dimensões e competências, requer ainda mais investimento em estratégias de atuação, nomeadamente incluir a literacia em saúde no próprio sistema; assegurar o acesso e gestão de informação eficiente; garantir uma comunicação efetiva; integrar a literacia em saúde na educação; e certificar a wustentabilidade das iniciativas de promoção de literacia em saúde.

 

Qual sera o melhor modelo a implementar? Parece haver consenso no modelo biopsicossocial

Para engel (1981), nenhum sistema existe isolado (p. 106). No modelo biopsicossocial o profissional usa a sua perícia, motivação e compreensão para proporcionar alívio, lidando com as pessoas e os seus problemas no contexto das suas circunstâncias de vida, e não como patologias (engel, 1981). Os princípios deste modelo apontam para uma intervenção que deve ser centrada na pessoa e não na tarefa (bach & grant, 2009, p. 13). As tarefas e responsabilidades do paciente são complementares do profissional. Neste modelo já se refere a necessária “motivação” e a importância de se envolver o paciente na participação (engel, 1981), indo “beber” à teoria cognitiva social de bandura (1977) a importância da dimensão social.

Engel (1981) estrutura o modelo em três partes:

1) uma componente biológica, em que se procura compreender, atendendo ao funcionamento do corpo do indivíduo, como se manifesta a doença;

2) uma componente psicológica, em que se procura avaliar quais as potenciais causas psicológicas para que exista o problema de saúde;

3) e também ancorada na teoria de mudança de comportamento (bandura, 1977), a importância do contexto e da componente social, que procura encontrar e avaliar os diferentes fatores sociais, como a cultura, as relações sociais ou o estatuto socioeconómico que podem influenciar a saúde da pessoa.

 

Os profissionais de saúde desempenham um papel importante nesta literacia, na sua e na que transmitem ao paciente transmitindo mais segurança

 Os profissionais de saúde devem destacar-se pelos seus maiores contributos para a resolução de problemas de comunicação que possam existir na relação terapêutica, tais como as falhas na compreensão dos seus pacientes face às orientações que lhes transmitem, sendo esta compreensão indispensável para a adesão terapêutica. No estudo em que foi aplicado o questionário europeu de literacia em saúde (sørensen et Al., 2012), a compreensão é definida segundo a taxonomia de bloom (1956), significando a capacidade de entender informação em saúde, tirar sentido dela, com ideias e palavras próprias, usá-la em situações ou problemas concretos e compreender fatores de risco (sørensen Et al., 2012).

 

Sentir compreensão é a capacidade interpessoal através da qual um paciente reconhece que o seu profissional de saúde o considera uma pessoa única, com as suas próprias preferências, esperanças e medos, e envolve uma curiosidade respeitosa e o desejo de aprender sobre as experiências e pontos de vista do outro (dyche, 2007, p. 1035).

 

A linguagem é o principal veículo para a partilha de conhecimento e de compreensão da Mensagem (hardin & banaji, 1993) e ruesch (1963) acentua “a importância e o prazer de ser dompreendido, e das partes chegarem a um acordo” (p. 134).

 

O Inquerito Europeu a Literacia em Saúde em 2012 veio trazer mais abrangência.

 O modelo conceptual distingue três domínios da literacia em saúde: cuidados de saúde, prevenção da doença e promoção da saúde. São também considerados quatro modos distintos de lidar com a informação sobre saúde: aceder à informação, compreender a informação, compreender e avaliar a informação, e utilizar ou aplicar essa informação (figura 4.1). Participaram no estudo europeu oito países: alemanha, áustria, bulgária, espanha, grécia, holanda, irlanda e polónia. Em cada país foi inquirida uma amostra aleatória de aproximadamente 1 000 cidadão. Portugal juntou se mais tarde em 2015.

Outros inqueritos como ralm-meter-s-tofhla-tofhla-nvs contribuiram para medir esta literacia de uma populaçao e tal como os autores dizem o que e necessário e importante e que estes testes sejam rigorosos e presenciais para podermos estabelecer comparaçoes fidedignas.

Em portugal e dai a razao deste livro já sabemos desde 2019

O relatório do “inquérito sobre literacia em saúde” realizado em portugal, demonstra que grande percentagem da população tem um nível de literacia em saúde baixo, o que significa que não consegue interpretar e usar a informação escrita, tendo dificuldade em entender e assimilar as recomendações feitas pelos profissionais de saúde, contribuindo para um maior risco da sua saúde.

 

Assim, a literacia em saúde deverá atuar tanto a nível individual como coletivo, no âmbito das famílias, da comunidade ou com outro nível de abrangência, numa perspetiva de complementaridade, adequando as estratégias de comunicação aos diferentes contextos (Almeida, 2019).

 

As competências de comunicação facilitam a consolidação da relação terapêutica, através de uma linguagem verbal e não verbal, de atitudes e comportamentos que promovem a participação do utente melhorando o acesso, a compreensão e o uso das informações em saúde, promotores de confiança nos utentes, o que permite uma maior motivação, ativação e autoeficácia para seguirem as instruções dos profissionais de saúde conduzindo à mudança de comportamento e a ganhos em saúde (Almeida, 2020).

 

Parabéns pois às duas por mais um contributo para esta temática 

 E naturalmente que não podia deixar de falar na saude mental

 Como dizem as autoras:

A par do aparecimento e da evolução do conceito de literacia em saúde, o conceito de literacia em saúde mental foi definido no final da década de 90 do século passado e tem evoluído ao longo dos anos. Identificando a omissão da referenciação acerca da dimensão da saúde mental no conceito de literacia em saúde, definido por nutbeam et al. (1993),

Jorm et al. (1997) definiram o conceito de literacia em saúde mental como o conhecimento e as crenças sobre as perturbações mentais que ajudam no seu reconhecimento, gestão e prevenção.

Posteriormente, em 2012, o autor distinguiu cinco componentes do conceito:

1)Conhecimento sobre como prevenir as perturbações mentais;

2) reconhecimento de quando

Uma perturbação mental se está a desenvolver;

3) conhecimento sobre opções de procura de ajuda e tratamentos disponíveis; 4) conhecimento sobre estratégias eficazes de autoajuda,

Para problemas menos graves;

5) competências de primeira ajuda/primeiros socorros em saúde mental, para ajudar outros quando desenvolvem uma perturbação mental ou estão

Em situação de crise (jorm, 2012).

 

O autor salienta que o conceito de literacia em saúde mental integra a aplicação do conhecimento na ação em prol do benefício para a saúde mental dos cidadãos (jorm, 2019). Desde essa altura o conceito tem sofrido várias alterações, focando-se cada vez mais na saúde mental positiva, promovendo o autocuidado, a autoeficácia e a eficácia na procura de ajuda, quando necessário (kutcher, bagnell & wei, 2015; bjørnsen et al., 2017; carvalho et al., 2022; sampaio, gonçalves & sequeira, 2022).

E tal como na saude global, a evidência diz-nos que melhores níveis de literacia em saúde mental estão associados a melhores resultados em saúde mental dos cidadãos.

 

Nas comunidades, as intervenções devem ser planeadas tendo por base o diagnóstico prévio de necessidades e os eventuais problemas. A metodologia de trabalho por projeto tem sido bastante utilizada com bons resultados (Fragoeiro, Morna & Freitas, 2020; Vaz de Almeida, 2021).

 

Estratégias e metodologias previamente testadas para fins e contextos semelhantes poderão conferir maior segurança à intervenção e conduzir a bons resultados com maior eficiência. São exemplos a referenciar, um trabalho já implementado na Madeira 0 mais contigo na prevençao de comportamentos de autolesão ficando a mensagem final bem definida:

“todos devemos ser promotores da literacia em saúde mental” sendo tambem uma das formas para combater o estigma.

E também a literacia sera um veículo importante para lidarmos melhor com os mais vulneraveis e com a inclusão, e com os cuidadores.

 

Sabemos que ainda temos um logo caminho a percorrer no capitulo da compaixão e da humanitude e cito as autoras, apesar das multiplas investigações já existentes nesta áreaf — falta a aplicação final e sua concretizaçao. Cada vez mais as ERPI necessitam de um olhar constante da nossa sociedade, a desresponsabilizaçao será sempre um acto de condenar.

 

Termino com o fenomeno da digitalização, algo que terá muito impacto na saude, e através do qual poderemos acelerar esta literacia em saúde facilitando o acesso a informação — a compreensão da informação  — e a aplicaçao dessa mesma informaçao em beneficio biopsicosocial.

 

Assistimos a um fenomeno disruptivo na saude com nitidos beneficios-  Tecnologias como a internet of things (iot), a prestação virtual de cuidados, a monitorização remota de doentes, a inteligência artificial, a análise de big data, o blockchain, os smartwearables, as plataformas, são ferramentas que permitem a troca, a captura e o armazenamento de dados (presencial ou remotamente, em tempo real ou diferido) e a partilha de informações relevantes a todo o ecossistema da saúde, criando um continuum da prestação de cuidados com enorme potencial de melhoria dos resultados em saúde, melhorando o diagnóstico médico, possibilitando as decisões de tratamentos personalizados, terapêuticas digitais, ensaios clínicos, a autogestão de cuidados e os cuidados dentrados na pessoa, além de criar mais conhecimento baseado na evidência e proporcionar aos profissionais competências crescentes para prestar cuidados de saúde realmente centrados no cidadão (WHO, 2021).

 

Esta a expresssao máxima da OMS

E com a segurança

 

Mas a literacia tem ainda um outro campo: irá ser benefica tambem para a segurança do sistema e dos cuidados a prestar.

Todos nos fomos alertados com o livro

 

to err is human”, publicado pelo Institute of Medicine em 2000 (nascimento et al., 2019). A publicação deste documento alertou o mundo para a gravidade deste assunto, desencadeando a necessidade de as organizações de saúde intervirem, de modo a promover a segurança dos cuidados. Surge assim a segurança do doente enquanto área de conhecimento e de inovação.

 

Como poderemos comunicar e facilitar esta literacia?

Como podem os profissionais de saúde facilitar a navegação dos utentes no sistema de saúde?

 

Os profissionais de saúde assumem um importante papel na defesa dos interesses dos doentes e na promoção da sua literacia em saúde. Várias medidas podem ser desenvolvidas em diferentes contextos, nomeadamente (Vaz de Almeida et al., 2019):

cuidados de saúde primários – produzir conteúdos adaptados às necessidades e contextos das populações, facilitar o acesso à informação em saúde, promover iniciativas de mobilização nos serviços de saúde e na comunidade, e realizar formação em competências de comunicação;

cuidados de saúde hospitalares – envolver todos os profissionais na partilha de informação, promover a navegabilidade nas instituições de saúde, utilizar ferramentas de comunicação adequadas, e promover a literacia em saúde no momento da alta Clínica;

farmácias comunitárias – capacitar o cidadão para tomar decisões terapêuticas e administrar adequadamente a medicação, promover o uso responsável de medicamentos, disponibilizar informação sobre saúde, e apoiar pessoas polimedicadas na gestão da sua doença.

 

Em 1967, watzlawick, Beavin e Jackson consideraram como primeiro axioma da teoria por Eles desenvolvida sobre a comunicação humana que “o impossível é não comunicar”. E por isso às duas a minha mensagem.

Não basta saber para onde se dirige o mundo, nós queremos chegar lá primeiro

Citei Steve jobs e com esta dou os parabéns e espero ter motivado para mais livros estruturantes.

Um abraço de parabéns às duas e obrigado por enriquecerem cientificamente a nossa sociedade com a vossa obra.”