Entrevista a Miguel Vieira, primeiro embaixador da SPLS

Data Evento

10 de Fevereiro, 2024    
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Entrevista a Miguel Vieira, primeiro embaixador da SPLS

Miguel Vieira tornou-se em 2023 o primeiro embaixador da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde. Conversámos com o atleta para perceber a importância que tem para si esta causa, o papel da sociedade e o que ainda falta fazer para que a Literacia em Saúde aumente em Portugal.

 

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Eu sou o Miguel Vieira, tenho 38 anos de idade e sou o atual campeão da Europa e do mundo na modalidade de judo paralímpico. Neste preciso momento, encontro-me qualificado, embora faltem duas ou três provas para terminar, para os Jogos Paralímpicos Paris 2024. Sou também o primeiro embaixador da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS). Comecei a assumir essas funções o ano passado e temos estado a trabalhar para levar o papel da SPLS a outras pessoas, comunidades, etnias.

O que o levou a associar-se à causa?

O pouco conhecimento que, muitas vezes, a nossa população, a nossa sociedade tem. Acho que a literacia em si é um meio de divulgação e de comunicação rápido para podermos espalhar o verdadeiro sentido do conhecimento das coisas. Há muita informação, mas está muito ligada a um determinado público, e há públicos que ainda não têm o verdadeiro conhecimento, a verdadeira noção, o saber escolher o que é que precisam e o que não precisam, o como e onde podem dirigir-se pelo seu bem-estar em termos psicológicos, físicos. O que me levou a associar a esta causa foi mesmo a importância de poder comunicar, transmitir, informar.

Como tem sido a sua experiência como embaixador?

Tem sido uma experiência gratificante e única, porque ser embaixador de uma sociedade como esta é de grande responsabilidade. Tem sido mesmo algo que abraço com o coração, tem sido bom viver os momentos que tenho estado a viver com toda a equipa envolvida, e tem sido, por outro lado, desafiante, porque como embaixador me obriga a conhecer melhor, saber melhor o papel, o meu desempenho para a nossa sociedade, o que posso ou não fazer dentro e fora do nosso país.

A sua história é um exemplo de superação. De que forma a sua experiência como cidadão lhe mostrou a necessidade da promoção da literacia em saúde?

A minha história de vida é uma superação, acho que sim, todos os dias consigo me superar e acho que há pessoas que precisam de ouvir e, muitas vezes mais do que ouvir, ver. Isto é o que me leva a poder também partilhar, como embaixador da SPLS, o verdadeiro sentido de superação, de viver, de olhar para as coisas com outro olhar que me faz parar e ir em busca, entrar na mente e viver o ambiente destas pessoas que, muitas vezes por falta de informação ou por um momento ou outro em que se deixam cair, porque entendem que as coisas pararam por aí, não conseguem fazer mais nada. Eu tenho partilhado a minha história de vida, como superação e motivação, para que as pessoas consigam entender que a vida não para por aqui e que nada está perdido. E, para isto, é preciso nos associarmos a outras instituições, como a SPLS, a outras pessoas que estão mais dentro do assunto. Tudo isso faz com que nós continuemos e passemos a acreditar que existem pessoas que nos podem motivar e dar aquele impulso de superação quando pensamos que tudo está perdido.

O que é que é preciso mudar, ou o que é que falta ainda fazer, para aumentar a literacia em saúde em Portugal?

É preciso mudar muita coisa. Eu acho que um trabalho como este tem princípio, mas não tem fim. Todos os dias reparamos que há pessoas menos informadas que precisam de apoio, que precisam de quem esteja ao lado delas e lhes transmita que, através da literacia, conseguem ter conhecimento daquilo que está por acontecer ou daquilo que se calhar até já existe. Nós estamos aqui, como membros da SPLS, para podermos dar passos, acrescentar os nossos degraus e subirmos juntos, não só quem participa, mas quem está do outro lado, que não ouviu, que está à espera da oportunidade, que está à espera de uma alavanca para poder perceber melhor o que é que pode ou não fazer. Eu tenho pensado muito que um público sem conhecimento é um público perdido. Nós estamos aqui, não para mudar o conhecimento das pessoas, mas sim para trazer conhecimentos àqueles que não têm, fazer com que se sintam públicos com decisões estáveis e certas, que sabem escolher e que sabem o que querem, o que precisam e o que não precisam. A literacia ajuda nisto, ajuda-nos a decidir e a escolher aquilo de que precisamos para o nosso bem-estar cultural e social.

 

Entrevista conduzida por Mariana Ramos Loureiro.