Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade
O insustentável peso da Obesidade
Por Rolando Andrade, Psicólogo, Psicoterapeuta e Sócio da SPLS
Obesidade é uma palavra pesada, longa, demorada, que se arrasta. É negativa, polivalente e multifacetada, com tantos usos e significados como o seu peso. Se for escutada com atenção, é uma palavra que revela os seus múltiplos usos, quer seja usada para insultar, rotular, estigmatizar, diminuir ou ofender. Assim sendo, a utilização desta palavra tanto pode ser uma manifestação de empatia, uma expressão de ódio, ou de pena disfarçada de uma falsa compreensão. Tantas vezes confundida com as palavras gula, preguiça ou desleixo, ultimamente também tem sido utilizada para simbolizar algo maior, quando lhe chamam pandemia.
Contudo, obesidade é a representação em palavra de uma doença de etiologia complexa e que acarreta um custo e um peso significativo na vida das pessoas afetadas. Por exemplo, é uma doença que dá origem a outras doenças. Coitada da palavra obesidade, estou certo que preferia chamar-se gripe, porque de certeza não seria alvo das interpretações distorcidas, que dão origem aos vilipêndios que são dirigidos às pessoas que sofrem de obesidade.
Quer seja em casa, ou quando sai à rua, a obesidade ouve expressões como “Qualquer dia não cabes na porta”, “faz dieta e vai para o ginásio”, ou “deixa de ser preguiçosa”, que mais não são do que a manifestação da ignorância que existe acerca deste assunto. Por exemplo, pode-se fazer exercício, e mesmo assim estar exposto a fatores emocionais que levam as pessoas a ingerir alimentos altamente calóricos. Também existem doenças alimentares que fazem as pessoas comer de forma compulsiva. Contudo, as pessoas com excesso de peso continuam a ser alvo de estigmatização e juízos negativos que, curiosamente, ocorrem também em contexto familiar, desportivo ou mesmo em contextos clínicos. O estigma está em todo o lado, na medida em que as pessoas obesas são vistas como preguiçosas e destinadas a ter pouco sucesso profissional ou amoroso. Nos contextos escolares, a obesidade é como o código postal, meio caminho andado em direção ao insulto. É por isso que o excesso de peso está entre as principais causas de Bullying. Aquilo que os estudos demonstram é que a estigmatização associada à obesidade, faz com que a obesidade aumente.
Estes estigmas fazem com as pessoas obesas também sejam alvo de lições de moral, algumas disfarçadas de boas intenções ou teor supostamente motivacional. São exemplos disso expressões como “vê lá se vais ao nutricionista”, ou “eu já perdi 20 kg, tu se quiseres também consegues”. No entanto ninguém muda comportamentos através de críticas negativas. Pelo contrário estas são quase sempre geradoras de culpa, vergonha e revolta, podendo levar à degradação da Saúde Mental dos visados. É fácil entender esta dinâmica, se o leitor pensar que quando tem um problema, com certeza prefere ser escutado do que criticado.
Obesidade é uma palavra densa, tão densa como o peso que transporta para a vida das pessoas afetadas. Penso que é altura de a sociedade como um todo colocar de parte a preguiça e a falta de vontade, e tomar medidas que coloquem definitivamente a obesidade no lugar que ela merece, ou seja, num catálogo ao lado das outras doenças com as quais normalmente anda de mão dada.
Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade
Por Vânia Costa, nutricionista e Vice-Presidente da SPLS, e Maria Leonor Pereira, nutricionista estagiária
Faz este ano 20 anos que Portugal reconheceu a obesidade como doença. O Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade foi criado em 2004 e é celebrado no penúltimo sábado do mês de maio. A comemoração deste dia tem como objetivo a sensibilização da população para a problemática da obesidade, das doenças associadas e as suas consequências na saúde.
Neste contexto, pretende-se também promover os principais fatores que ajudam a proteger desta condição de doença, nomeadamente a adoção de hábitos alimentares saudáveis, a prática regular de exercício físico e descanso adequado.
A obesidade é uma doença crónica caracterizada pela acumulação excessiva de gordura corporal, normalmente associada a peso excessivo. É um fator de risco para muitas outras doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares, distúrbios músculo-esqueléticos e diversos tipos de cancro.
Estima-se que no mundo, em 2022, 1 em cada 8 pessoas viviam com obesidade sendo esta uma das principais causas de morte precoce. Em Portugal, quase 2 em cada 10 pessoas tem obesidade (17,7%). A obesidade infantil é também preocupante e atinge cerca de 13,5% das crianças portuguesas.
A obesidade é desencadeada por diversos fatores dependendo, em grande parte, de hábitos de estilos de vida desadequados. A boa notícia é que estes hábitos são modificáveis e como tal, é possível reverter a situação de obesidade. Para tal é importante ter apoio de uma equipa de saúde, em que o seu médico ou um nutricionista são um importante apoio.
É necessário a criação de políticas multissectoriais que facilitem a mudança de comportamentos, nomeadamente a criação de ambientes que promovam a prática de exercício físico e permitam um acesso facilitado a alimentos e produtos alimentares saudáveis. A mensagem é tornar a escolha saudável a escolha mais fácil.
https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2823%2902750-2
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight
https://data.worldobesity.org/country/portugal-174/#data_prevalence