Dia Mundial dos Leprosos

Data Evento

28 de Janeiro, 2024    
Todo o dia

Dia Mundial dos Leprosos

Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS

A lepra é uma doença transmissível que afeta os nervos e a pele. Na sua origem está a pobreza, falta de água potável, higiene e desnutrição. Em 1873 Gerhard Hansen descobriu o bacilo responsável pela doença e passou a ser conhecida, também, por doença de Hansen.

O Dia Mundial dos Leprosos celebra-se no último domingo de janeiro e foi instituído em 1954 pela ONU, a pedido de Raoul Follereau, filantropo francês, conhecido como o apóstolo dos leprosos do século XX, e que dizia “ser feliz é fazer os outros felizes”. A escolha do dia está associada à morte de Mahatma Gandhi, que faleceu no último domingo de janeiro de 1948 e que afirmava “eliminar a lepra é o único trabalho que não consegui completar na minha vida”. A efeméride procura sensibilizar as populações para discriminação de que estes doentes são vitimas, para além de promover a ajuda e a integração social dos leprosos.

A este propósito, proponho que leiam a obra “Doce Tóquio”, de Durian Sukegawa que, além de ser uma obra sublime sobre a amizade, a ajuda altruísta e o desejo e procura da autorrealização, descreve o estigma e sofrimento dos doentes com lepra, excluídos da sociedade e condenados a viverem isolados em gafarias. 


Por Graça Feio, sócia da SPLS

A Organização das Nações Unidas, em 1954, a pedido de Raoul Follereau, instituiu o Dia Mundial de Combate à Lepra, no último domingo do mês de janeiro, para chamar a atenção sobre a necessidade de se lutar contra a doença e contra o sofrimento, o esquecimento e a rejeição destes doentes.

Raoul Follereau, chamado de “apóstolo dos leprosos”, era um escritor, jornalista e advogado francês, que se dedicou em exclusivo à luta contra a lepra e à defesa destes doentes, durante 50 anos e tinha como lema “combater a lepra e todas as lepras”.

A lepra é também designada como hanseníase ou doença de Hansen, porque foi Gerhard Armauer Hansen, um médico norueguês, que em 1873 descobriu o bacilo que causa a doença.

A hanseníase é uma das mais antigas doenças existentes no mundo, que é mencionada desde a antiguidade, e a que está associado um medo histórico, que resulta num preconceito e estigma para com estes doentes.

É uma doença tropical negligenciada, infeciosa e transmissível, provocada por uma bactéria (mycobacterium leprae), que causa lesões na pele (manchas e/ou feridas), nos nervos periféricos (as pessoas ficam com menos sensibilidade à dor, ao toque e ao calor), na mucosa do aparelho respiratório superior (nariz e boca) e nos olhos.

Atinge mais a cara, mãos e pés, mas pode espalhar-se às costas, às pernas e aos braços. Se a doença não for tratada, pode causar “dormência”, fraqueza muscular, paralisia, cegueira.

É uma doença que faz milhares de vítimas no Mundo. É endémica em alguns países. Todos os anos surgem cerca de 140 mil novos casos de lepra.

A Organização Mundial da Saúde calcula que cerca de 3 a 4 milhões de pessoas, em todo o Mundo, vivam com deficiências ou deformações físicas devido à lepra.

Em Portugal a doença está erradicada e os poucos casos que existem são importados de outros países.

A falta de água potável, de higiene e sanidade, a desnutrição e a pobreza extrema, são determinantes associados à transmissão e disseminação da doença.

Citando o Papa Francisco “Não podemos esquecer estes nossos irmãos e irmãs. Não devemos ignorar esta doença, que infelizmente ainda afeta tantos, especialmente em contextos sociais mais pobres”.

A lepra tem cura. A deteção precoce e o início do tratamento, podem prevenir complicações e incapacidades provocadas pela doença. O tratamento é feito com uma combinação específica de antibióticos, entre 6 e 12 meses, mediante o grau de evolução da doença.

Na década de 40, do século XX, é que surgiu o primeiro medicamento contra a lepra, mas a cura da doença só apareceu no início da década de 80.

A forma de transmissão da doença ainda não é exata, mas pensa-se que a principal forma de transmissão é feita por via aérea (respiratória), quando uma pessoa infetada e não tratada, tosse ou espirra, em locais pouco arejados e ventilados e com várias pessoas. Mas pode haver outras formas de contágio, como através da pele num contacto físico prolongado.

Em 2008 foi identificada uma nova bactéria, a mycobacterium lepromatosis, que causa uma lepra específica.

Através da história sabe-se que os doentes com lepra eram afastados do contacto social, mas, ainda hoje, em várias comunidades e países estes doentes continuam a ser isolados e marginalizados.

Em termos históricos, a região de Portugal mais atingida pela doença foi o Litoral Centro (Aveiro, Coimbra, Leiria), tendo sido construído no século XIII, em Coimbra, o Hospital de São Lázaro, que dava assistência, abrigo e alimentação às pessoas com lepra. No século XX, também no Centro do País, na Tocha, em Cantanhede, foi construído o Hospital Rovisco Pais, onde estes doentes eram cuidados e tratados. Neste hospital, em 2020 foi criado um Núcleo Museológico sobre a doença de Hansen.

Várias organizações internacionais têm desenvolvido esforços e estratégias para reduzir e eliminar a hanseníase a nível mundial. Ao mesmo tempo, vão disseminando informação e conhecimento atualizado sobre a doença, para aumentar a consciencialização da sociedade e ajudar assim, a eliminar os mitos relacionados com a lepra e reduzir o estigma e o isolamento social destes doentes.

Referindo uma vez mais o Papa Francisco, “infelizmente, o estigma ligado a esta doença continua a provocar graves violações de direitos humanos, em várias partes do mundo”.

A Organização das Nações Unidas tem como um dos objetivos do desenvolvimento sustentável até 2030, acabar com as doenças tropicais negligenciadas, das quais a lepra faz parte.

A Organização Mundial de Saúde tem como meta estabelecida para 2030, reduzir o número de novos casos de lepra no Mundo, por ano, para cerca de 62.500, o que, ainda está muito longe de ser conseguida.

Um dos objetivos da Organização Mundial de Saúde, para a década 2021-2030, inclui a erradicação da lepra no Mundo, com várias medidas para se conseguir atingir um número de zero casos por ano de infeção e de doença, bem como, de incapacidade, e de estigma e discriminação associados à doença e a estes doentes.

Para concluir, citando Raoul Follereau, “a única verdade é amar”.