Dia Mundial do Doente (World Day of the Sick)
Por José Mendes Nunes, Sócio da SPLS
O Dia Mundial do Doente é celebrado desde 1993. Esta celebração foi instituída pela Igreja, mais propriamente, em 1992, pelo Papa João Paulo II, um ano depois do diagnóstico de Doença de Alzheimer. A escolha desta data deve-se ao fato de neste dia se celebrar a Festa de Nossa Senhora de Lourdes sendo, por isso, um momento de devoção à Virgem Maria e associado à cura.
Trata-se de uma forma de estimular os fiéis a orarem pelos que sofrem de doenças e pelos seus cuidadores e de salientar a importância de preservar a saúde física, mental e espiritual, particularmente nas pessoas vulneráveis e marginalizadas.
Com este dia procura-se valorizar a compaixão para com os doentes e seus cuidadores. A compaixão é a empatia a que se associa o genuíno desejo de ajudar. No cuidado aos doentes inclui-se a atenção a dispensar aos cuidadores valorizando a sua importância e procurando protegê-los do desgaste inerente de quem cuida. É imperioso cuidar também de quem cuida para preservar a sua saúde de modo a poder continuar a cuidar – cuidar de quem cuida.
Em 2023[1] o lema escolhido foi “a doença faz parte da nossa condição humana. No entanto, se a doença for vivida em isolamento e abandono, desacompanhada de cuidado e compaixão, pode tornar-se desumana”. O que, como profissional de saúde, me leva a dizer que quando não há “nada” a fazer limita-te a estar presenteque é uma dádiva e um dos gestos mais humanos que temos à nossa disposição.
As necessidades de saúde têm aumentado exponencialmente, a que se associa uma crescente dependência das pessoas em relação aos serviços de saúde. Neste dia, deve-se refletir sobre a pressão a que estes serviços estão sujeitos, exigindo-se-lhes transformações organizacionais e maior preocupação como empoderamento das pessoas, mas também as populações devem assumir responsabilidades e, para isso, procurarem maior literacia em saúde de modo a desempenharem o seu papel como agentes fulcrais de saúde.
Cuidar da saúde é uma responsabilidade de todos e não apenas dos serviços de saúde.
Deixo-vos uma oração[2] que Janice Burns-Watson, estudante da National Association of Catholic Chaplains:
Ó Senhor, eu humildemente venho orando junto de Ti, o Grande Médico. Eu sei que no fim, toda a cura vem através de Ti. Abençoai-me com um senso de paciência enquanto espero respostas sobre uma doença. Concedei-me paz enquanto luto com um indesejável prognóstico. Ajudai-me a encontrar alegria novamente enquanto lamento as mudanças sempre presentes no corpo da minha juventude. Enchei-me com coragem para suportar os desafios desta doença. Acima de tudo, abre o meu coração para ver teu amor por mim. Posso descansar sabendo que esse amor é constante e nunca muda.
Que teu amor por mim seja uma fonte de esperança, isso me cura no fundo da minha alma.
Ámen.
[1] À data em que escrevo este texto o lema para 2024 ainda não estava definido.
[2] Minha tradução livre.
Por Rolando Andrade, psicoterapeuta e sócio da SPLS
A doença é uma experiência humana Universal, que pode afectar a todos, independentemente da sua idade ou estatuto social. Estar doente significa uma ruptura, um desvio da linha temporal que as pessoas tinham projectado para a sua vida. Quanto mais grave for a doença, maior será essa ruptura.
Estar doente também significa uma alteração momentânea da identidade de cada um. Por exemplo, o meu nome é Rolando, mas quando fico doente, para um profissional de saúde passo a adquirir o estatuto de “paciente”, no SNS sou identificado através dum número, para a família passo a ser “o doentinho” e num consultório poderei ser conhecido, por exemplo, como o “doente das 17h”. Fascina-me esta alteração súbita de estatuto e identidade, consoante a hora, a doença e o local. Contudo, relembro que me chamo Rolando, que já estive doente algumas vezes sem me sentir doente, enquanto noutras vezes descobri que estava doente por acaso, sem no entanto me sentir doente.
Enquanto Psicoterapeuta, lido diariamente com pessoas que têm uma doença, bem como com outras que me procuram, mesmo sem estarem doentes. Acredito que todos têm algo que os liga à vida, ou não estariam à procura de ajuda. Todos procuram libertar-se, ter um sentido, recuperar desejos ou aliviar o seu sofrimento. Tento que enquanto estão na minha presença se sintam como pessoas, e não como alguém a quem foi diagnosticada uma doença.
É por isso que acredito ser importante, mais do que citar, aplicar os preceitos da Organização Mundial de Saúde na promoção do Saúde física, psicológica, social e espiritual das pessoas, porque desta forma adquirem ferramentas que as capacitam se tornarem agentes activos da sua Saúde.
Uma visão integrada da Saúde, valorizando todas as suas dimensões, permite que os profissionais de Saúde, as pessoas com doença e os seus cuidadores se aproximem do seu lado Humano, mantendo assim relações terapêuticas sólidas, baseadas na empatia e em canais de comunicação que promovam a confiança, a abertura, a clareza e a positividade.
Cada pessoa com doença tem um rosto, uma história e uma família, tem um passado, um presente e deseja ter um futuro. Por isso, no dia Mundial do Doente, acredito que o desafio que nos é proposto é o de lançar um olhar profundo para a pessoa que temos à frente, que faça com que cada um de nós se transforme num especialista em pessoas e na promoção da sua Saúde, ao invés de um especialista em Doenças.