Dia Mundial do Braille
A 4 de janeiro de 1809, em Coupvray, próximo de Paris, nasceu Louis Braille, criador do sistema de escrita que permite a leitura através do toque, sendo de enorme importância para a vida e a integração dos cegos na sociedade.
Louis cegou aos 3 anos na sequência de um acidente enquanto brincava com ferramentas na loja de arreios do pai. A ferramenta, um furador de costura, escorregou e foi bater no seu olho direito a que se sucedeu uma infeção que se espalhou ao olho esquerdo, ou simplesmente uma oftalmia simpática*, ficando sem ver de ambos os olhos.
No entanto, a adversidade não o impediu de se tornar num notável músico e organista. Em 1819, recebe uma bolsa de estudo e foi para o Instituto Nacional para Crianças Cegas, em Paris, onde, depois de 1826, fica a ensinar outras crianças. Nesta escola, Charles Barbier faz uma demonstração de um sistema de escrita em que a mensagem é codificada em pontos perfurados em papelão e que simbolizavam sons fonéticos. Este sistema também é conhecido por “escrita da noite”, porque era usado pelos soldados para comunicarem no escuro sem ruido.
Aos 15 anos, elabora uma adaptação deste sistema, escrita com um instrumento simples, que respondia às necessidades especificas dos cegos e apresenta-o aos colegas em 1824. Depois pegou no sistema, que consiste em seis pontos, que permitia várias combinações, e adaptou-o à escrita musical e palavras. Braille criou o seu próprio sistema de pontos elevados usando um furador de costura. Ironia do destino, o mesmo instrumento que o cegou. Restava ainda um outro problema: é que o sistema não permitia que os cegos escrevessem para os familiares. Assim cria o decaponto ou rapidografia que era uma forma de escrever o alfabeto romano permitindo a leitura tátil.
Entretanto, o amigo, também cego, François-Victor Foucault construiu um aparelho que permitia empurrar todos os pontos ao mesmo tempo para o papel agilizando consideravelmente a escrita.
Louis Braille veio a falecer em 1852, a 6 de janeiro, vítima de tuberculose com que conviveu durante 16 anos.
O ensino do Braille nunca foi permitido na sua escola durante a sua vida, por teimosia do fundador do Instituto de Nacional para Crianças Cegas, Valentin Haüy que usava uma técnica de estampagem em relevo (do tipo que temos nos selos brancos), que exigia papel pesado com a impressão do alfabeto romano. Só que este sistema era muito pesado, de difícil leitura e não permitia a escrita por invisuais. Haüy, que não era cego, embora fosse um grande filantropo que criou uma das primeiras escolas do mundo especificas para cegos, mas com a sua “cegueira” nunca permitiu que Braille ensinasse o seu método na escola em que trabalhava.
* A oftalmia simpática é a inflamação do trato uveal (uveíte) do olho contralateral ao outro que sofreu lesão ou cirurgia, i.e., um dos olhos é lesado e o outro sofre por “simpatia”.
José Mendes Nunes
Sócio da SPLS
