Dia Mundial da Malária
Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS
A 25 de abril de 2000, 44 países africanos, considerados endémicos de malária, assinaram a Declaração de Abuja (Capital da Nigéria) e, um ano depois e no mesmo dia, observaram o Dia Africano da Malária. Aquela declaração defendiam um “forte compromisso de melhorar a saúde e promover o bem-estar do povo de África”. Em maio de 2007, a Organização Mundial da Saúde, na sua 60ª Assembleia, declara o dia 25 de abril Dia Mundial da Malária como oportunidade de promover “educação e conhecimento sobre a malária”. O tema do primeiro Dia Mundial da Malária (2007) evoca, eloquentemente, a importância de as nações colaborarem na luta contra a malária – “Malária: uma doença sem fronteiras”. Ao fim de 20 anos de luta, o problema mantem-se preocupante, de tal modo que a 6 de março deste ano os ministros da saúde africanos, reunidos em Camarões, reiteraram a vontade de se ”comprometeram a acelerar as ações para reduzir a mortalidade por malária”. Embora o continente africano seja o mais afetado pela malária, só 11 países africanos (Burkina Faso, Camarões, Congo, Gana, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria; Sudão, Uganda e Tanzânia) têm 70% dos casos, o problema é global, pelo que se exige a colaboração entre todos os países neste combate. Como marco de esperança, Cabo Verde, em 2021, foi declarado pela OMS como país livre de malária.
A malária é uma doença transmitida pelo mosquito Anopheles que transporta o agente que causa a doença, o Plasmodium, do qual existem várias espécies sendo a mais frequente o Vivax, e o mais agressivo o falciparum. Geralmente a doença manifesta-se com febre, fadiga, vómitos, e dores de cabeça. Nas formas mais graves surge com icterícia, convulsões, falência multiórgãos etc..
A prevenção é a melhor forma de combater a malária e consiste, sobretudo, em evitar a picada do mosquito (uso de redes, repelentes, controlo do mosquito) e medicação.
Sir Ronald Ross, em 1897, na India, descobriu no estomago de um mosquito (Anopheles) o parasita (Plasmodium) responsável pela malária. Descoberta que lhe valeu o Prémio Nobel da Medicina de 1902. O mosquito será responsável pela morte de milhões de pessoas no mundo e é, por isso, considerado o animal mais perigoso do mundo. O Mosquito alimenta-se de sangue dos humanos e as fêmeas de algumas espécies podem transmitir, aos humanos, doenças como a malária, filaríase, dengue, doença do sono, etc. A tudo isto ainda se adiciona a alergia às picadas.
Para celebrar o dia deixo-vos com este poema erótico de Carlos Drummond de Andrade:
Satânico é o meu pensamento a teu respeito,
E ardente é o meu desejo de apertar-te na minha mão,
Numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava na minha cama,
Quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste o teu corpo sem roupa ao meu corpo nu, sem o mínimo de pudor!
Percebendo a minha aparente indiferença,
Aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste no meu corpo e no lençol provas irrefutáveis
Do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar.
Quando chegares, quero-te agarrar com avidez e força.
Quero-te apertar com todas as forças das minhas mãos.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.
Só assim, me livrarei de ti, MOSQUITO Filho da Puta!
Desculpem-me a incongruência de no meio do flagelo da malária colocar um momento de poesia, mas ele (o poema) chama a atenção para o fato de um animal de tão fraco porte, poder ser o mais perigoso do mundo!