Dia Mundial da Epilepsia
Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS
O Dia Mundial da Epilepsia celebra-se no segundo domingo de fevereiro desde 2015 por iniciativa do Bureau Internacional para a Epilepsia (IBE) e pela Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE), com o fim de as pessoas com epilepsia partilharem as suas experiências e histórias com um público global.
O vocábulo epilepsia vem do grego “epi” e “lepsem” que significam “de cima” e “abater”, respetivamente, sendo considerado como “qualquer coisa que vem de cima e abate as pessoas”. Portanto, era qualquer coisa dada pelos deuses pelo que esta perturbação durante muito tempo teve algo de místico e manifestação divina e sobrenatural acreditando-se que as pessoas eram possuídas por espíritos. Contudo, na antiga Roma a pessoa com epilepsia era evitada pelo receio de contágio. Na Idade Média o estigma agravou-se ao serem consideradas bruxas e no século XV dois frades dominicanos, que pertenciam à Inquisição escreveram um manual de caçar bruxas em que consideravam as crises epiléticas como sinal de feitiçaria. Mas alguns médicos da época também entenderam que era devida a influências ocultas e propuseram tratamentos horríveis e legislação que proibia a reprodução.
Ora é precisamente este o principal objetivo desta celebração: combater o estigma e a discriminação das pessoas com epilepsia que lhes reduz a qualidade de vida e as inibe de acederem aos cuidados de saúde que precisam.
Em Portugal calcula-se que 40.000 a 70.000 pessoas sejam afetadas por esta doença.
A epilepsia é uma doença do sistema nervoso central em que existem neurónios que de forma súbita e imprevisível emitem descargas anormais que interferem com a restante atividade cerebral. Em mais 50 a 60% das situações a causa é desconhecida e por isso a classe médica, na sua linguagem encriptada, as designa de idiopáticas, que é uma forma erudita de dizer que não sabemos. As restantes 40% são secundárias a outras patologias de origem genética, traumática, metabólica, autoimune e infeciosa sendo, nestas circunstâncias “sintomática”.
A convulsão ou ataque epilético é o principal sintoma da epilepsia, mas uma só convulsão não faz o diagnóstico. Cerca de 10% da população tem pelo menos uma convulsão na vida e nada tem a ver com epilepsia.
As crises epiléticas classificam-se em focais e generalizadas. Nas primeiras apenas uma parte do cérebro (o foco epilético) é afetada. A dimensão é variável e a expressão da crise depende da área cerebral envolvida. Por sua vez as crises focais podem ter ou não alteração da consciência. Já as generalizadas todo o cérebro é afetado, a pessoa perde a consciência e não tem qualquer memória do que aconteceu.
O diagnóstico é essencialmente clínico, pelo que é fundamental a descrição das crises pelo próprio e pelas testemunhas. O exame complementar de diagnóstico mais usado para confirmar é o eletroencefalograma (EEG) Este exame é o registo atividade elétrica do cérebro pode ajudar a determinar o tipo de crise, mas é muito pouco sensível e de difícil interpretação. Já os exames de imagem, como a tomografia axial computorizada (TAC) e ressonância magnética nuclear (RMN) só permitem identificar as causas de epilepsia secundária.
Felizmente existem tratamentos farmacológicos, e não só, que permitem o controlo da epilepsia proporcionando uma qualidade de vida equiparável à população não epilética.
O mais importante é a pessoa com epilepsia ter acesso aos cuidados de saúde que lhe podem dar uma vida perfeitamente normal e esse é um dos objetivos deste dia: garantir o acesso aos cuidados de saúde das pessoas com epilepsia.
Para terminar, transcrevo as recomendações Liga Portuguesa contra a Epilepsia sobre o que fazer perante uma crise epilética[1]:
1) Nas crises focais, em que há́ perturbação da consciência, deverá:
- a) Proteger o doente de eventuais perigos envolventes durante a crise;
- b) Falar de forma calma e gentil uma vez que a pessoa pode estar confusa;
- c) Acompanhar a pessoa até à recuperação completa da consciência;
- d) No final da crise, explicar o que aconteceu de forma clara e calma.
2) Nas crises generalizadas, com queda, deverá:
- a) Manter a calma;
- b) Proteger a cabeça, segurando-a com as mãos, se necessário;
- c) Deitar o doente de lado e desapertar-lhe a roupa à volta do pescoço;
- d) Dar-lhe o devido apoio até à recuperação completa de consciência;
- e) Se a crise demorar mais do que 5 minutos e não conhecer o doente, chame a ambulância.
[1] Liga Portuguesa Contra a Epilepsia. A Epilepsia e Generalidades, 2024. Disponível em: https://epilepsia.pt/epilepsia-e-generalidades/. Acedido em: 01/01/2024.