Dia Internacional da Mulher
Por José Mendes Nunes, sócio da SPLS
O dia homenageia a mulher e todo o movimento que, ao longo de mais de um século, tem lutado pelos direitos das mulheres. Como todos os movimentos que lutam pela igualdade, este também vem da esquerda.
O Partido Socialista da América organizou a primeira comemoração do “Dia Nacional da Mulher”, a 28 de fevereiro de 1909 na cidade de Nova Iorque. Houve tentativas de desvirtuar o significado deste movimento alegando, displicentemente, que se tratava de uma manifestação das trabalhadoras de vestuário, vulgo costureiras, daquela cidade. A ideia teve ressonância na Europa, mais precisamente na Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, de agosto de 1910, que se tinha reunido para preparar a Segunda Internacional Socialista que iria ter lugar em Copenhaga, Dinamarca. Neste Conferência, é proposta a declaração de um “Dia da Mulher”, ainda sem data definida. As delegadas apoiaram a ideia por verem nela uma estratégia de promover a igualdade de direitos que incluíam o de as mulheres votarem. Entretanto, as americanas mantinham a comemoração no último domingo de fevereiro.
Em 1913, as russas celebram o primeiro Dia Internacional da Mulher no último sábado de fevereiro (segundo o calendário juliano que era, então, o que a Rússia ainda usava). No ano seguinte, foi a vez da Alemanha celebrar o dia com o principal objetivo de conquistar o direito ao voto. Foi escolhido o dia a 8 de março, muito provavelmente por ser domingo, fixando-se, definitivamente, nesta data. No mesmo dia, em Londres, organizaram uma marcha de Bow até Trafalgar Square, em defesa do sufrágio feminino. Quando Sylvia Pankhurst se dirigia para aquela marcha, preparando-se para discursar em Trafalgar Square, foi detida junto da estação de Charing Cross iniciando uma sequência de 15 detenções pelo seu envolvimento nas campanhas de defesa dos direitos das mulheres. Ela era filha de fundadores do Partido Trabalhista Independente, foi uma das mais acérrimas sufragistas, lutadora contra o fascismo, socialista e depois comunista
A 23 de fevereiro de 1917 (segundo o calendário Juliano) ou 8 de março (segundo o gregoriano que um ano depois viria a ser adotado pela União Soviética), em Petrogrado (hoje São Petersburgo), as trabalhadoras de têxteis iniciaram uma manifestação que percorreu toda a cidade. O curioso é que esta manifestação, inesperadamente, deu início a um processo revolucionário que culminou na Revolução Russa. As Mulheres de Petrogrado entraram em greve por “Pão e Paz”, exigindo o fim da escassez de alimentos na Rússia, o termo da guerra e a deposição de Czar. Desde então, o dia 8 de março foi sempre celebrado e, em 1965, foi declarado feriado nacional pelo Presidio do Soviete Supremo da URSS com o seguinte texto: “em comemoração dos méritos marcantes das mulheres soviéticas na construção comunista, na defesa de sua pátria durante a Grande Guerra Patriótica, em seu heroísmo e abnegação na frente e na retaguarda, e também marcando a grande contribuição das mulheres para o fortalecimento da amizade entre os povos e a luta pela paz.”
Embora a ideia tivesse larga implementação nos países comunistas, infelizmente, durante muito tempo, no mundo capitalista a celebração foi ignorada considerando-a como “coisa de comunistas”. Só por volta do final dos anos 60, surgem os movimentos “feministas de segunda onda”, em particular partindo dos EUA. Nas duas décadas seguintes as mulheres uniram-se a esquerdista e organizações de trabalho reivindicando salários justos, oportunidades idênticas, direitos iguais, creches, subsídios e prevenção da violência contra as mulheres. As Nações Unidas só começam a comemorar o Dia Internacional da Mulher no ano Internacional da Mulher de 1975. Dois anos depois, a Assembleia Geral das Nações Unidas, finalmente, proclama o dia 8 de março como o Dia das Nações Unidas pelos direitos das mulheres e pela paz mundial.
Durante a pandemia SARS-Cov2, as mulheres, em todo o mundo, destacaram-se na prestação de cuidados, como profissionais de saúde, cuidadoras, investigadoras, organizadoras de sistemas comunitários de apoio e, finalmente, o trabalho de vacinação que foi predominantemente feminino.
A história da luta das mulheres, não é uma história de luta por elas próprias. A sua luta representa uma luta contra toda a opressão, contra toda a miséria humana evitável. É uma luta pelas melhores condições de vida, de paz e bem-estar para todos incluindo, claro está, as mulheres. Por isso, hoje não é só dia das mulheres, é o dia de todos os oprimidos e violentados, tal como as mulheres o tem sido ao longo dos séculos. A opressão, a discriminação e violência não têm género. São todas do género deplorável e indefensável. Lembro que a ideia de “minorias” é um conceito criado pela “maioria” opressora para designar a “maioria” oprimida.
Por toda esta história de luta, hoje, me rendo e presto homenagem à vossa luta, ao vosso trabalho, ao vosso sofrimento, à vossa entrega e… também, à vossa beleza. Como homem, vos peço: não caiam na tentação de imitar os homens, porque não somos exemplos recomendáveis. Se as mulheres ocupassem o poder, será que não teríamos menos guerras?