Crónica da Dra. Joana Paula. "A minha visão para a literacia em saúde"

Data Evento

22 de Janeiro, 2024    
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Crónica da Dra. Joana Paula. “A minha visão para a literacia em saúde”

Presentemente o mundo enfrenta elevados desafios, quer pelo atual cenário geopolítico instável, quer pela transformação rápida induzida pela inteligência artificial.

No entanto em toda a diversidade do mundo Portugal apresenta características únicas e meritórias da nossa atenção. Acredito que será pioneiro e palco de uma mudança muito profunda na organização dos cuidados de saúde, tendo em conta o envelhecimento da sua população, a sua baixa taxa de natalidade e os grandes desafios na contratação dos profissionais de saúde.

Tudo isto, aliado a uma Formação Universitária de qualidade e de reconhecimento internacional farão do nosso país um local com as características perfeitas para projetos piloto nacionais e internacionais no que respeita à melhoria dos cuidados de saúde e evolução da Medicina, nomeadamente nas especialidades que mais se dedicam a melhorar a participação na sociedade, autonomia dos indivíduos e a sua qualidade de vida.

Enquanto Médica Especialista em Medicina Física e de Reabilitação a minha visão é a da integração de cuidados, capacitação e responsabilização do utente e Liderança de Profissionais de Saúde/ Equipas Multidisciplinares.

Neste campo, vejo muitas oportunidades e desafios.

Acredito que a estratégia inicial deverá estar assente numa rigorosa análise de dados em que a Tecnologia e a Medicina devem estar fortemente envolvidas. Acredito que deve ser feita uma aposta séria na análise estatística das patologias mais comuns, das causas mais frequentes de incapacidade e de consultas médicas.

Estou em crer que o problema da dor crónica, maioritariamente de etiologia músculo-esquelética deverá ser uma área prioritária, pela sua elevada frequência e pela elevada incapacidade física que provoca, bem como aos seus elevados custos e à sua associação à depressão.

Nesta área a articulação de cuidados, a integração das informações em cloud, partilha de dados e envolvimento da indústria, empresas, tecnologia/inovação, comunidade e Instituições de ensino é fundamental.

O modelo de ULS poderá facilitar essa prestação de cuidados, contudo os desafios são enormes.

O financiamento para cuidados de reabilitação em Portugal é baixo, comparativamente a todas as outas áreas médicas. Contudo uma reabilitação de qualidade provoca elevados ganhos para a sociedade e permite viver com mais qualidade de vida os últimos anos de vida, reduzindo complicações e evitando quedas/complicações e mesmo algumas cirurgias.

 É necessário criar sistemas de análise de resultados/ “Big Data” e avaliar qual o modelo de prestação de cuidados que mais resultados gera. Torna-se então necessário definir “out-come measures”/medidas de resultado. Sendo que os nossos resultados são sempre dependentes da Literacia/Capacidade do utente e capacidades das Equipas de Profissionais de Saúde.

Para tal as unidades de saúde devem entregar os materiais informativos necessários ao seu utente e prestar as informações sobre a patologia, devendo o utente compreender qual o tratamento adequado, quais os sinais de alarme e quais os passos futuros/tratamento futuro em caso de agravamento.

Esta capacitação do utente deve passar de um papel passivo para um papel ativo. Este é um elevado desafio numa população envelhecida, com baixa literacia digital, com baixo nível sociocultural e com famílias muitas vezes ausentes, ou com pouca disponibilidade.

Em segundo lugar, mas não menos importante e necessário é a Formação dos profissionais de saúde, como Auxiliares, Administrativos, Enfermeiros, Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica. Técnicos superiores de saúde, Médicos e todos os envolvidos na prestação de cuidados.

Diria que cada classe tem necessidades específicas de formação e que nesta área o mais difícil será encontrar aceitação por parte de algumas classes profissionais.

Tradicionalmente temáticas como a comunicação, processo de tomada de decisão e liderança não constam dos currículos médicos pré-graduados, ou pelo menos não constavam.  É, pois, necessário um envolvimento sério da classe médica e um envolvimento com os Colégios das Especialidades e com as Universidades.

Assim a educação dos profissionais de saúde, o seu contato com outras áreas do conhecimento como a área das artes, comunicação e pensamento estratégico é fundamental.

Assim, em suma, a minha visão é de que só uma Equipa Multidisciplinar vai conseguir a Educação/Capacitação de utentes e de Profissionais de Saúde, devendo todas as medidas serem associadas a medição de Resultados e análise dos mesmos.

Cuidar dos nossos idosos, dos que outrora nos ensinaram, é para mim prioritário e a minha visão da Literacia em Saúde. É cuidar dos mais frágeis e capacitá-los.

Dra. Joana Ventura Paula

Médica Especialista em Medicina Física e de Reabilitação