"Análise Crítica da Integração da Saúde Animal no Contexto de One Health", por Xavier Canavilhas

Data Evento

17 de Agosto, 2024    
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“Análise Crítica da Integração da Saúde Animal no Contexto de One Health”, por Xavier Canavilhas

Por Xavier Canavilhas

O aumento da investigação na Saúde e a rapidez com que se cria e consolida novo conhecimento, conduziram a uma crescente segmentação em áreas de conhecimento cada vez mais estreitas. Este progresso, permite-nos usufruir da esperança média de vida mais longa, alguma vez imaginada, mas acarreta também a responsabilidade de expandir-mos as margens, sob pena de não responder adequadamente a desafios emergentes. Só assim poderemos assegurar uma eficaz cobertura, capaz de proteger a saúde pública de forma verdadeiramente abrangente. 

One Health é uma abordagem que integra, de forma holística, todas as partes que implicam diretamente na saúde – ambiental, humana e animal. Além das evidentes ligações entre elas, uma perspetiva integrada permite uma diminuição do risco em saúde, assim como uma melhor gestão de recursos, maior eficiência e o desenvolvimento de uma capacidade de resposta abrangente e coordenada aos atuais e futuros desafios em saúde pública.  

Este conceito surgiu no século XIX, mas a sua implementação tem percorrido um caminho longo e tortuoso. A saúde animal, apesar da sua direta correspondência com a maioria das ameaças enfrentadas, continua colocada à margem, sob estruturas de coordenação próprias e sem ligações expressivas à saúde humana ou à tomada de decisão, de forma intrínseca. 

A fragmentação institucional e a inexistência de fóruns formais ou informais que aproximem os profissionais, contribuem substancialmente para esta problemática, impedindo a passagem de informação e a resolução transversal de problemas. Este afastamento, dentro das organizações governativas, não reflete a realidade biológica na qual operamos. É por isso necessário rever essas estruturas de forma significativa e transformadora, com uma perspetiva técnico-científica isenta e idónea que permita a partilha da decisão em saúde, entre os vários setores, numa lógica de igualdade de contributos. 

A fragmentação institucional condiciona também a própria passagem de dados recolhidos pelas entidades. Bastaria a criação de um simples repositório que permitisse difundir, aos diversos intervenientes, os indicadores recolhidos e a sua formatação para garantir a maximização dos recursos existentes, através da sua reutilização em contextos sinérgicos. 

É crucial este investimento em investigação transdisciplinar e no desenvolvimento de metodologias práticas que permitam o funcionamento de novas estruturas mais abrangentes em saúde.  A uniformização de termos, a capacitação cruzada de profissionais de saúde e a consciencialização sobre a necessidade de uma abordagem integrada são pontos nevrálgicos do processo, que devem ser abordados de forma séria. 

Sem produção científica adequada neste domínio, a tomada de decisão, baseada em evidência, torna-se vazia, comprometendo os cuidados prestados e o nível de preparação dos vários participantes do processo. Urge, portanto, criar mecanismos públicos e privados que permitam colmatar esta fragilidade e expandir a base de decisão em saúde, para que ela seja mais adequada com a sua real importância e impacto que tem na nossa vida coletiva. 

Por fim, a literacia em One Health será talvez o ponto mais determinante de toda esta mudança necessária. Sem uma clara estratégia para a sensibilização e partilha de conhecimento neste domínio, nada impedirá o ressurgimento das barreiras derrubadas anteriormente. A formação cruzada de profissionais de saúde sobre este tópico toma particular importância no presente, criando maior sensibilização e assegurando a intercooperação entre profissionais. Enquanto que, o intercâmbio académico de alunos e professores entre entidades de ensino das áreas da saúde e ambiente e a concretização desses conceitos nos programas escolares garantem o futuro destas ferramentas para melhor defender a nossa saúde coletiva. 

Apenas uma abordagem ampla de discussão e uma verdadeira união na saúde podem permitir o estabelecimento de metodologias inteligentes e inovadoras, capazes de nos proteger e agregar valor à comunidade. 

 

 

Tabela de Recomendações 

Problema  Recomendações 
Fragmentação Institucional 
  • Integrar a Saúde Animal dentro das estruturas ministeriais da saúde, assegurando a independência técnica e científica das equipas, promovendo a tomada de decisão em saúde baseada na evidência e na integração de setores. 
  • Formação Cruzada de Profissionais de Saúde 
  • Criação de fóruns de discussão transdisciplinares para a decisão partilhada em Saúde. 
Falta de Partilha de Dados em Saúde e Sistemas Integrados para Gestão de Risco em Saúde 
  • Livre disponibilização cruzada de dados entre entidades de saúde.  
  • Criação de ferramentas que integrem dados de saúde das diferentes áreas e permitam a avaliação de risco cruzada, a capacitação da resposta em saúde e a melhoria da utilização de recursos. 
Falta de Investimento em Investigação Transdisciplinar 
  • Maior captação de investimento público e privado para o desenvolvimento de investigação científica que permita não só identificar e avaliar riscos de saúde. 
  • Desenvolvimento de metodologias adequadas para a coordenação de respostas integradas em saúde. 
Literacia em One Health 
  • Promover nas escolas o conceito de One Health e alargar o conhecimento geral da população sobre o tópico, demonstrando de forma simples a interligação entre todos esses setores. Implementar projetos de formação cruzada nas jornadas académicas dos vários cursos nas áreas da saúde e ambiente.