Isabel Fragoeiro
O País em andamento. Interconexões promotoras da saúde.
Olhares, perceções, crenças, evidências e ações conjugadas, rumo a níveis mais elevados de literacia em saúde nas comunidades.
O país movimenta-se e transforma-se à medida que os cidadãos conscientes das suas necessidades no âmbito da saúde e do bem-estar, reconhecem que possuem não só o direito a se pronunciarem sobre o rumo a dar ao seu quotidiano, mas também têm a responsabilidade de serem auto-construtores de seu projetos de vida e de saúde.
Ao afirmá-lo, considera-se imperativa a sua participação! Quer na gestão da sua saúde e na daqueles que de si dependem, quer também, nas políticas de saúde pública, no planeamento em saúde, na implementação de programas, projetos e medidas dirigidas às populações, quer ainda, na monitorização e na avaliação da qualidade dos serviços auferidos e resultados alcançados, incluídos os ganhos em saúde.
Aqueles cidadãos que por razões de doença ou pelas vulnerabilidades associadas ao seu desenvolvimento ao longo das diversas etapas do ciclo de vida, ou por outros fatores determinantes da saúde, são também fundamentais, quanto à respetiva participação, e, na impossibilidade, por quem os represente formalmente.
Cidadãos críticos e envolvidos não apenas no seu projeto de saúde, mas também, na construção de comunidades saudáveis, acrescentam valor ao país e contribuem para que todos os que ao mesmo pertencem e com ele se identificam, possam percecioná-lo com
as condições para que se sintam autónomos, seguros, apoiados caso necessitem e com bem-estar. Para que também, auto percecionem-se como detentores de mais capacidades e mais ferramentas, para prevenir situações evitáveis de doença.
A evidência científica mostra-nos que os níveis superiores de literacia em saúde, correlacionam-se positivamente com a promoção da saúde bem como com ganhos efetivos na compreensão, acesso e utilização adequada, dos serviços e cuidados disponíveis nas comunidades, nomeadamente, das diferentes regiões do país.
Olhares e perceções distintos quando partilhados, o que acontece no interface com múltiplas pessoas incluídas em diferentes segmentos populacionais e sociais, sugerem que a literacia em saúde, nunca antes como agora, esteve e está presente no quotidiano dos portugueses. Quanto a nós, bom sinal!
Sabe-se que a consciência dos determinantes da saúde, os quais englobam a literacia em saúde, desenvolve-se paulatinamente, envolvendo capacidades mentais e físicas intrínsecas e presentes ao longo do processo de desenvolvimento humano, mas também, influenciada por fatores extrínsecos a ele, como por exemplo: os sócio-culturais, os económicos, os ambientais, os veiculados pelos diversos meios de informação e comunicação, entre outros, não necessariamente menos relevantes para o desenvolvimento saudável.
Globalmente, considerando os diferentes fatores, o país pode identificar-se como heterogénio, com características diversificadas e com diferentes realidades, quanto a possíveis diagnósticos de saúde que existam ou deveriam existir, das diferentes regiões que o constituem. Necessariamente, todas portuguesas, Norte, Centro, Sul, Açores e Madeira, mas todas ideossincráticas no que concerne às múltiplas dimensões relacionadas com a saúde.
No âmbito da literacia em saúde, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS), fundada há dois anos (2022) tem assumido um importante papel social e no que à saúde diz respeito, revelando-se timoneira na mobilização e envolvimento de vários segmentos populacionais e de cada cidadão de per si, dando um contributo primordial para que sejam mais literados em saúde, e sobremaneira, para que adquiram não apenas conhecimentos, mas desenvolvam competências e controlem ferramentas, que lhes permitam ter comportamentos mais positivos e saudáveis. Paralelamente, clarificando aspetos fundamentais para que os cidadãos e as diferentes comunidades de pertença, adotem comportamentos adequados e atempados, na procura e no acesso a respostas nos serviços de saúde e dos respetivos profissionais, devidamente qualificadas. A SPLS preza sobremaneira, a utilização da linguagem clara, positiva e assertiva, partilhada entre os vários intervenientes nos diferentes processos implementados, e a utilização de metodologias de trabalho inclusivas, inovadoras e fundadas na evidência científica atual relacionada com a saúde, pois assume-as como fundamentais para que os cidadãos e as diferentes comunidades de pertença, adotem comportamentos de auto-cuidado adequados, e atempadamente, procurem e acedam às respostas que satisfação as suas necessidades e minimizem ou solucionem os seus problemas de saúde, nos serviços e dos profissionais de saúde devidamente qualificados.
A rede de intervenção da SPLS é hoje mais abrangente, diversificada, culturalmente sensível, solidária e fortemente sustentada e determinada, na prossecução da missão que assumiu e na prossecução dos objetivos delineados em matéria de literacia em saúde para o país. A título de exemplo refira-se a panóplia de parcerias, protocolos e compromissos, assumidos com diferentes entidades, organizações públicas, privadas e de solidariedade social, efetivados durante os dois anos de percurso, e destaque-se a satisfação dos muitos dos que participaram no aumento da literacia em saúde, e simultaneamente, na promoção da saúde das populações do país.
Em tempo de aniversário, importa refletir o caminho trilhado até aqui por todos os que se associaram à causa da SPLS, sejam portugueses ou de outras nacionalidades, felicitando-os pelo seu contributo inestimável, na extensão da rede de trabalho e no fortalecimento da mesma, pelos nós (vínculos) que se criaram, revigorando a esperança no capital investido, e permitindo a obtenção de resultados muito gratificantes e estruturantes, coletivamente.
Na diversidade dos olhares, das perceções, das crenças, dos afetos, presentes em cada um, nas diversas etapas do caminho, como também, dos saberes e formações cientificas e profissionais permutados voluntariamente, estruturaram-se conexões sinérgicas, para a ação construtiva, nas diferentes regiões do país, em prol da promoção da literacia e da saúde coletivas.
Em continuidade, perspetiva-se uma SPLS com uma identidade nacional revigorada, ativa na descoberta de novas oportunidades, sustentada na ação construtiva e fundamentada do ponto de vista científico, e presente, por boas razões, na vida e no desenvolvimento positivo da saúde dos portugueses.
A nossa gratidão por contarem connosco e a nos desafiarem a persistir dinâmicos e empenhados, na melhoria da literacia em saúde dos portugueses.
Bem-hajam.