Cristina Vaz de Almeida

Consciência, Compreensão e Esperança

Dois anos correspondem a 730 dias. O tempo de vida da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde constituída a 19 de janeiro de 2022.

Neste período, mostramos o que sabemos fazer:

1 — Desenvolver competências do cidadão no ciclo de vida, motivando-o a ter melhores e mais acertadas decisões em saúde e motivando-o através de estratégias assentes na ciência do comportamento e saber ouvi-lo, através das Miniassembleias da Saúde;

2 — Desenvolver estratégias para tornar as organizações mais literadas, oferecendo formação avançada em literacia em saúde, à medida das necessidades, livros e manuais de referência e uma posição de qualidade relevante no meio académico, da saúde, do social, cultural, positivo;

3 – Estar perto do cidadao através de intervenções comunitárias pensadas para a motivação e a experiência sensorial como o projeto ATIVAR, o RITMO, Rastreios;

4 – Implementar atividades muito relacionadas com a arte e os seus efeitos no bem-estar, como a exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea, Literacia faz bem à saude, ou a dança em cadeira de rodas e o tango terapêutico ou os desfiles de moda inclusivos;

5 – Estar atentos às redes sociais, ao combate à desinformação, com presença credível e constante com mais de 100 notícias publicadas (em 2023) com o apoio indelével da Onya Health, grande parceiro;

6 – Promover a interligação com as comunidades de lingua portuguesa, como Angola, através de parcerias frutuosas;

7 – Compreeender e desenvolver as redes de parcerios ativos, desde os mais jovens a outras sociedades científicas, cooperando para melhores resultados em saúde e melhor literacia em saúde;

Podíamos dizer que, ao sétimo dia, poderíamos ter descansado. Mas não foi isso que fizemos. O mundo em que vivemos nestes dois anos mostram uma população envelhecida com 2,5 milhões de idosos, dos quais meio milhão vivem sós e dos quais 40 % se sentem “muito sós”, com 400 mil a viverem no limiar da pobreza e também, consequentemente, com baixa literacia em saúde.

O mundo agitou-se em guerras desmedidas em vários pontos: Ucrânia/Russia, Iemen, Israel/Gaza, entre outros conflitos que geram incertezas quanto ao mundo do amanhã.

No meio disto, a literacia em saúde fortalece-se porque é feita por pessoas que entendem que só nos tornamos cidadãos se investirmos no próximo e, sobretudo, na compreensão do próximo. Não é por acaso que uma das dimensões mais importantes da literacia em saúde é a compreensão.

Venho assim refletir sobre esta necessidade enorme de sermos compreensivos para com o próximo, de preservar a relação e respeitar o outro para que tenhamos uma vida mais preenchida, rica, saudável.

Para que a saúde mental não perigue mais do que já está.

E esta compreensão deve ser extensível a todos.

Para termos compreensão, temos de aprofundar a consciência da importância dos nossos atos no próximo, seja a nível individual, grupal ou societal.

O mundo reage ao que fazemos. E, por isso, para além desta compreensão, juntam-se a consciência de que somos e dos efeitos que temos sobre os outros e a esperança de acreditar que podemos fazer melhor. Parecem-me ser estes os melhores argumentos da nossa procura de bem-estar, que passa necessariamente pelo bem-estar do outro.

A literacia em saúde salva vidas. Possamos nós, com um melhor acesso, compreensão e uso dos recursos que impactam na nossa saúde tornar este mundo um pouco melhor. Desenvolvamos assim as competências para que nos possamos ainda motivar mais.

Parabéns a todos os que acreditam no poder transformador da literacia em saude, numa comunicação não violenta assertiva, clara e positiva.