Berta Augusto

SPLS – uma Sociedade recente, mas tão transformadora

Falar da centralidade do cidadão no SNS é falar de equidade no acesso aos cuidados de saúde e aos recursos fundamentais para a qualidade de vida, de igualdade de oportunidades e direitos, de promoção da inclusão, de envolvimento e participação ativa na saúde individual e coletiva.

A Literacia em Saúde apresenta-se como uma prioridade e um desafio para a prossecução de tal desiderato, promovendo o acesso à informação e à sua compreensão, a disseminação do conhecimento e o uso adequado do mesmo, permitindo escolhas mais informadas e decisões mais participadas em saúde, com consequências na promoção da sua saúde, na prevenção ou gestão da doença e na utilização adequada dos serviços de saúde.

Este foco da literacia em saúde permitirá um olhar mais atento sobre as necessidades dos cidadãos, ouvindo-os e valorizando-os, envolvendo-os na procura de respostas adequadas, na criação de ambientes transformadores, promotores de humanização, de qualidade de vida e bem-estar.

Sabemos que o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde de qualidade que necessitam, no momento e no local onde são necessários, é um direito previsto na Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde dos Utentes do SNS. Mas também sabemos que na sociedade atual somos confrontados com enormes desafios que comprometem o acesso das populações mais vulneráveis aos cuidados de saúde, dada a situação de enorme fragilidade humana, social e cultural em que se encontram, associada frequentemente ao baixo nível de literacia em saúde, razão por que desconhecem ou se encontram completamente desmotivados e desinteressados na utilização dos circuitos convencionais dos cuidados de saúde. Este ambiente de vulnerabilidade em que se movimentam, proporciona comportamentos de risco e desenvolvimento de doenças, facto pelo que urge intervir, facilitando-lhe o acesso privilegiado aos cuidados de saúde com forte aposta na sua capacitação para a promoção da saúde e prevenção de complicações, tomando a iniciativa de ir ao seu encontro, como estratégia de proximidade, envolvimento, valorização e inclusão.

Os cuidados deverão ser prestados por equipas multidisciplinares, conscientes desta necessidade, devidamente capacitadas em estratégias comunicacionais promotoras de literacia em saúde, que integrem os cidadãos vulneráveis nas tomadas de decisão, escutando-os ativamente, identificando as suas aspirações e desenhando os objetivos, as estratégias e as intervenções em função das suas reais necessidades, tendo sempre em conta as suas preferências para conseguir maior efetividade na prestação de cuidados. A utilização de uma comunicação assertiva, com uma linguagem clara de fácil compreensão e uma abordagem positiva promotora de orientação e esperança, adaptada às caraterísticas pessoais, de escolaridade e culturais de cada cidadão, será facilitadora do processo de promoção de capacitação e mudança de comportamentos.

A aposta num sistema que valorize e acompanhe o impacto dos determinantes sociais da saúde no acesso aos cuidados de saúde, que sensibilize, mobilize e capacite os profissionais para o empoderamento dos cidadãos e que construa respostas multissetoriais numa estratégia de concertação integrada e integradora para e com as comunidades vulneráveis, dinamizadas localmente, será estruturante para a promoção da sua saúde e bem-estar.

O reforço em estratégias e meios de apoio à promoção da literacia em saúde dos cidadãos, sejam eles utilizadores e prestadores de cuidados de saúde e a construção de projetos de intervenção centrados nas suas necessidades, torna-se fulcral neste processo que certamente contribuirá para reduzir as desigualdades sociais no acesso aos cuidados de saúde.

Por tudo isto, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, apesar dos seus apenas dois anos de existência, afirmou-se pelo seu dinamismo, energia transformadora e proximidade com as comunidades, atuando como elemento preponderante na promoção da literacia em saúde dos nossos concidadãos. Uma Sociedade que tem potenciado a agregação dos vários atores da sociedade em prol dos cidadãos, juntando a Academia, as Organizações de Saúde Públicas e do Privado, o Setor Social, As Associações, os Municípios, o poder político e órgãos reguladores, e naturalmente cada um dos cidadãos que apoiaram e usufruíram da ação da sociedade. Só deste modo será possível concretizar a missão desta sociedade “prosseguindo fins científicos, formativos, técnicos, organizativos, éticos e humanos na promoção, desenvolvimento e aperfeiçoamento da prática da Literacia em Saúde” em prol do bem-estar da sociedade.